Crítica – As Panteras

Nos créditos iniciais da nova versão de As Panteras, vemos diversas meninas, de várias partes do mundo, realizando as mais diferentes tarefas. Arco e Flecha, leitura, esportes e muito mais. Girl power e representatividade, duas coisas que nunca estiveram tão em alta, o que torna a ideia de reviver a franquia mais plausível e lógica do que em outros casos. Isso, ja que esses dois aspectos podem se encaixar facilmente nesse universo sem muitas alterações e ainda mantendo o espírito do original.

Nessa nova iteração das personagens, sob a direção de Elizabeth Banks, a organização agora é multinacional, com agentes e “Bosleys” — agora um título — espalhados por todo o globo. Elena (Naomi Scott) procura a agência após descobrir que seu projeto de energia limpa, intitulado Calisto, no qual pode ser transformada facilmente em uma arma. Ela deseja revelar isso para o mundo inteiro, algo sem muito interesse para a empresa com qual trabalha. As panteras, Sabina (Kristen Stewart) e Jane (Ella Balinska), precisam protegê-la de um perigoso assassino que deseja silenciá-la definitivamente.

Além da montagem previamente citada, o longa também começa com um diálogo com a mesma ideia: “mulheres podem fazer o que quiserem”. A tese é importante e verdadeira, contudo ela aparece pouco integrada à narrativa em si. A trama e essa ideia não estão tão conectadas quando aparentam à primeira vista, já que ela nunca é posta à prova em nenhum momento e acaba servindo mais para estabelecer momentos muito isolados no filme. Um desses exemplos são diversas cenas pós créditos que, apesar de divertidas, são somente isso.

Não que abraçar uma bandeira de modo mais eficaz seja algo necessário, mas certamente não atrapalharia, visto que muito pouco separa As Panteras de qualquer outra produção de ação genérico. A história é um tanto sem sal e previsível, com vilões tão mal definidos, que até agora não faço ideia qual o propósito do antagonista ter feito o que fez. Não há nenhuma sensação de tensão porque não se sabe o que está em jogo. É preciso mais do que um simples “impedir o malvado de fazer maldade”.

As cenas de ação também não ajudam. Se os dois filmes dos anos 2000, dirigidos pelo diretor McG, pecavam pelo excesso, aqui tomaram o caminho oposto. Existem até boas ideias em algumas delas, como mostrar duas panteras lutando simultaneamente, todavia elas são acometidas por algo muito frequente no cinema de ação atual: edição excessivamente frenética e câmeras tremidas. Não há nenhum senso de espaço nas cenas de luta corpo a corpo. São apenas extremamente picotadas, mal se identifica quem está lutando com quem e os tiroteios são filmados de modo extremamente burocrático. 

Os melhores momentos dentro da obra são exatamente quando socos não estão sendo trocados, pois o que sustenta o longa é a presença do trio principal, na qual funcionam muito bem dentro da sua simplicidade. Sabina é a mais rebelde, Jane a profissional e Elena a mais inocente. Uma formação muito semelhante a algo como Meninas Super Poderosas? Certamente, mas a interação entre elas nunca deixa de ser divertida. Até mesmo Elena, que começa sendo extremamente irritante, passa a ser mais cativante com sua fofura. É muito interessante ver Kristen Stewart – claramente se divertindo muito -, interpretando uma figura mais cômica e Balinska é uma badass digna de respeito, mas que se permite mostrar vulnerável.

Existe também uma divertida inversão de certos estereótipos de gêneros. Se, em produções de ação, geralmente há alguma personagem feminina que existe exclusivamente ou para ser resgatada pelo mocinho, ou para auxiliá-lo sem ocupar muito espaço de cena — quando não os dois —, aqui o mesmo papel é desempenhado por figuras masculinas. Nada profundo, porém fazendo muito sentido dentro da proposta.

No todo, Banks consegue transportar a franquia setentista para uma nova era de modo bem eficaz, em grande parte pela força de suas atrizes principais. Em As Panteras, elas conseguem carregar bem uma história que seria absolutamente esquecível em outras circunstâncias, e o olhar feminino por trás das câmeras é muito bem-vindo, mesmo que falte um pouco de segurança nos momentos mais intensos.

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