Critica – Um Crime Para Dois

O relacionamento de Jibran (Kumail Nanjiani) e Leilani (Issa Rae), que começou às mil maravilhas, vai de mal a pior. Sem o entendimento mútuo, eles nem parecem nem ser mais compatíveis na vida sexual, visto que cada um possui agora um desejo. Além disso, nem chegam tanto a se importar com o trabalho um do outro. Logo que saem de casa decidem se separar após uma briga. É nesse instante, Jibran acaba atropelando um ciclista, mas que logo se levanta e vai embora. Um homem que se diz policial (Paul Sparks) aparece, tomando o carro dos dois e mata o homem com a bicicleta, indo embora imediatamente. O casal, então, foge pela cidade acusado de assassinato do homem, mas tentando descobrir formas de se inocentarem.

A sugestão cômica aparece desde o início de Um Crime Para Dois. Aliás, o papel mais interessante dessa comédia se encontra na interação do casal, quase repleta de um ar satírico. Ao mesmo tempo que inflam um ao outro, possuem um amor entre si. Dessa forma, a direção de Michael Showalter transforma o longa em uma grande jornada de provação do amor dos dois. Até que pontos eles realmente poderiam se doar um pelo outro? Até onde eles estão realmente abertos a ouvir? A provação, bastante complexa, se mostra nos menores momentos.

Esse elemento narrativo está sempre em busca de um efeito catártico, porém isso falta dentro da obra que busca mais possuir seu desenvolvimento dramático dentro das próprias piadas do que pelo lado do drama em si. Falta realmente um maior tempo para que uma verdadeira conexão se crie para que algo esteja mais claro. Obviamente, é impossível não ter uma afeição direta com a dinâmica do casal sempre levadas por uma encenação de confusão, algo tirado diretamente de produções dos anos 80 e 90. O caráter cômico se encontra muito mais em um pedido de “desculpas” do que propriamente porque algo foi feito, sempre dando espaço para piadas mais bobas. Assim, Showalter transforma sua produção apenas em uma comédia, quase contradizendo com sua proposta.

Entretanto, o caráter de esquete do filme também se eleva como um fato advindo quase de uma série de TV. Retomando ao falado sobre a provação do amor, é interessante como, apesar de existir uma coesão de acontecimentos presentes, há sempre uma encenação diferente para cada localidade que se constrói. Um dos exemplos é quando eles estão dentro de carros, onde se busca um fator sempre da conexão entre os dois, quase como totalmente expostas as feridas de cada um. Já quando eles vão para casa de um menino que tem a ver com a grande conspiração criminosa, o desenvolvimento dessa tragicomédia está concentrado na forma que o longa referencia a ideia do “bom policial, mau policial”.

Essa sensação aventuresca, apenas se deslocando pelas ruas da cidade, transforma a produção em quase um road movie dos anos 2020. Isso porque a viagem de produções desse estilo encontra-se sempre na estrada, todavia aqui ela aparece pela busca de encontrar alguma coisa, seja pela utilização da tecnologia, seja por fazer uma orgia alguma vez, seja pela participação em cultos, ou até o conceito de anônimo. É como se estivéssemos em constante relacionamento com um presente em que toda parte é formada por modificações na maneira como iremos observar o mundo e iremos viver, assim, essa “estrada” se relaciona bem mais ao conceito de deslocamento urbano, pelas diversas cidades dentro da cidade.

Nesse sentido, Um Crime Para Dois é o que poderia se considerar uma comédia romântica em um mundo contemporâneo. Cheias de um sentimento voltados não ao relacionamento em si mas em como essa relação estará conectada à uma nova realidade do mundo. Cada vez mais complexas são as formas de olhar para o outro, que existem quase como um sentimento de viver em um mundo paralelo, onde é possível escapar de um assassinato, mesmo claramente não tendo nada a ver com ele. Apesar de realmente pecar em conseguir buscar a dramaticidade desses personagens, Michael Showalter se mostra muito interessado em um olhar para o novo dos casais. Será que eles todos eles estariam adaptados aos novos tempos? Difícil dizer.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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