Parasita e a consolidação do cinema sul-coreano
Muito desvalorizado ao longo do tempo, a indústria cinematográfica coreana se consolida aos poucos como um novo grande meio em ascensão. Não apenas em termos de crítica – visto que alcançou isso rapidamente -, mas também dentro do meio das premiações e para com o público. Isso transformou a sétima arte do país, reconhecida como menor no oriente pela disputa com o Japão, em a maior potência da linguagem de cinema do século XXI. Se irá se manter? Só saberemos com o passar do tempo e pelas dificuldades na qual terá de enfrentar – além da concorrência dos blockbusters americanos. Entretanto, Parasita prova de vez como a Coreia do Sul veio para ficar.
No longa, cujo a história conta sobre uma família pobre que busca ir assumindo os espaços dentro da cada de uma família rica, é possível ver bem esse resultado. Não apenas pela questão de ter ganho o Festival de Cannes em 2019, um feito já inédito ao país, mas também pelo fato de representar uma grande realidade de lá. Assim como no caso chinelo, comuma grande concentração de renda, a Coreia tem em seu cinema uma reflexão sobre a realidade social do país, muito mais complexa do que é aparentado usualmente. E isso se reflete na variedade de gêneros, temas e mais realizados em seu cinema.
Ganhando potência devido aos investimentos em cultura propostos pelos governos no início dos anos 2000, a Coreia do Sul foi adquirindo aos poucos um papel de quase pioneira no mercado asiático. Isso pelo fato do Japão ter perdido um pouco de seu reinado dominante durante o final dos anos 90 e pelo fato da China chegar com anos bons e anos ruins nessa disputa. Além deles, alguns outros lados se destacam, como no caso da Indonésia e Tailândia, porém com produções menores. A coreana acaba por ser bastante específica e conseguir trilhar um caminho bem interessante nisso.
Não é possível dizer um início certeiro. Contudo, dois filmes podem se mostrar como grandes responsáveis e bases a serem seguidas. O primeiro deles é Oldboy, dirigido por Park Chan-Wook, 2003. Mesclando um cinema bem clássico de ação e uma ideia de thriller fortemente intricada na narrativa, ele foi estabelecido como um novo ideal a ser alcançado. A Ásia, aliás, é devidamente reconhecida pelas suas cenas de ação, sempre adquiridas com muito impacto e presença dentro das produções. O segundo é Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Primavera, de Kim Ki-Duk, também de 2003. Nele é possível ver um outro caminho a ser desenvolvido. O foco acaba por ser no desenvolvimento dramático e em um existencialismo quase total, na qual ficou bastante marcado também no país.
Dessa forma, foi possível ver como os diversos desenvolvimentos resultaram tradições bem características. É possível ver hoje dentro da Coreia filmes como Em Chamas, de 2018, por exemplo, que retrata claramente a disputa territorial do século XX entre a Coreia do Sul e do Norte. Além disso, é possível também observar coisas como Invasão Zumbi, 2016, produção focada totalmente no horror e na ação, com perseguições, explosões, além de muito sangue proposto em tela.
Todos esses elementos só evocam ainda mais a força trazida por Parasita. Esse busca uma mescla de quase tudo, passando por um filme em diversos gênero e alterando nas diversas formas. Apesar de não ser o mais aclamado, ele transformou-se na realização modelo da Coreia do Sul, na qual deverá ser contemplada com uma primeira indicação e vitória no Oscar de 2020. Ainda não se sabe fielmente sobre isso, mas a força internacional que o longa tem tido mostra bem como ele vai trilhando seu caminho próprio. O cinema coreano só surgiu mesmo para o mundo graças ao investimento do Estado e hoje vira uma referência para toda uma nação.
Arte da capa por Ana Paula Barbosa.