Crítica – The Chair (1ª Temporada)
A melhor síntese da nova produção da Netflix The Chair se encontra em sua primeira cena. A protagonista da produção Yoon Ji (Sandra Oh) entra no escritório de seu novo cargo, chefe do departamento de Literatura Inglesa da Universidade de Pembroke, e olha com profunda satisfação e reverência para os itens da sala, que marcam a história do espaço. Ela lentamente ronda a sala e vai para trás da pesada mesa de madeira que ocupa a sala, e com certa emoção, se senta na cadeira. Tudo parece bem, até que a cadeira quebra, e ela cai no chão.
Essa situação de um espaço venerável, histórico, mas ultimamente falho é um dos pontos temáticos da série, que transita entre os problemas pessoais dos personagens e os da instituição, duas esferas que, às vezes, se confundem um pouco. A protagonista da série é a professora universitária Yoon Ji, que acabou de conquistar a cadeira do seu departamento, a primeira mulher a fazer tal coisa, sendo responsável pelo bem estar do corpo docente e de seus alunos. A posição é prestigiosa, mas possui seus “pepinos” particulares, como, por exemplo, ter que lidar com a necessidade da Reitoria de forçar a aposentadoria de professores mais velhos, ter que afagar o ego de uma celebridade que talvez dará uma importante palestra na Universidade, entre outros. Isso sem levar em conta os problemas pessoais da personagem, como a filha adotiva que não a aceita muito bem.
Como previamente dito, The Chair navega entre essas duas esferas, os problemas pessoais de cada um de seus personagens, e questões mais gerais, como problemas de representatividade no ambiente acadêmico e problemas generacionais nesse mesmo espaço, e ele é muito hábil em dar tons tanto de comédia quanto de drama para cada um desses aspectos. Por exemplo, em certo ponto da série, Yoon Ji oferece uma grande oportunidade para Yaz Mckay (Nana Mensah), uma popular professora afro-americana da universidade, mas a reitoria tem outras ideias, oferecendo a mesma coisa para… David Duchovny, o ator. O absurdo da situação tem uma graça inerente, muito bem explorado no diálogo posterior entre Duchovny e Yoon Ji, mas traz também consequências dramáticas sérias, como o sentimento de desprestígio que Yaz passa a sentir, colocando tensão entre as duas amigas.
A série de Amanda Peet e Annie Wyman é muito conectada com questões atuais, e diante do ambiente em que se passa, não poderia deixar de fugir de debater questões como a “cultura do cancelamento”, dinâmicas de poder, sexismo e afins. Apesar do pouco tempo dos episódios, esses assuntos são tratados com tato, sem respostas muito fáceis, mas não deixa de ser uma pena que um dos aspectos importantes dessas discussões, os alunos, não sejam muito explorados como algo além de porta-vozes de certas frases chaves, sendo mais “agentes incitadores” do que indivíduos de fato. Com poucas exceções, os alunos são muito mais uma massa de pessoas que os personagens precisam aprender a navegar em conjunto.
O motivo para isso é óbvio, já que o foco mesmo está nos professores e seus dilemas, o que funciona muito bem, é uma maravilha ver Joan Hambling (Holland Taylor) redescobrindo uma vitalidade que acreditava estar perdida, mas tendo que encarar o mesmo sexismo de sempre, assim como a relação entre a protagonista e Bill Dobson (Jay Duplass), que é disfuncional, mas divertida e dolorosa na mesma medida.
Assim, The Chair é leve mas sem ser frívola, e moderna sem forçar a barra. Existem aqueles que falam que o “politicamente correto” quer acabar com o humor, o que não é verdade, e a série mostra que, para comédia seguir em frente, assim como a Universidade em que ela se passa, essas questões precisam ser encaradas com certa seriedade, por mais irônico que pareça.