Crítica – As Quatro Irmãs
Vera Holtz se transformou em uma figura pública e da internet, mas não apenas por suas atuações. Especialmente, suas performances na internet em diversos vídeos a fizeram alguém reconhecida por muitos até que não viram suas participações em filmes, peças ou novelas. Não a toa, desde que isso se tornou recorrente, a atriz parece que assumiu o papel também nos trabalhos, em ser uma espécie de figura quase “superior” a todos. É nesse papel que ela vai assumir o lado de narradora, personagem e intérprete em As Quatro Irmãs.
O filme, que mistura elementos de documentário e ficção, vai abordar a relação de Vera e suas outras três irmãs: Teresa, Rosa e Regina. O diretor e roteirista Evaldo Mocarzel usa isso para falar das relações familiares complexas e, especialmente, do peso das figuras materna e paterna nessa conexão. Através de conversas e da narração de uma espécie de diário por parte de Vera Holtz, entendemos mais as engrenagens de funcionamento da casa dos Holtz, realizando julgamentos sobre isso.
É curiosa essa forma como o cineasta transforma o público de As Quatro Irmãs em figuras julgadoras. Em certo sentido, há um viés de colocar apenas essas mulheres que sobraram da família como barreiras para qualquer coisa ruim que tenha acontecido. Barreiras também do lado positivo, visto que aprenderam com tudo que passaram, principalmente no campo artístico. Além da irmã das atuações, existe aquela da música, do artesanato, e assim por diante. Apesar de terem passado por problemas e complicações, elas continuam juntas, em uma espécie de corpo coletivo que as une. Por isso mesmo, a encenação sempre reforça essa passagem pela união. É como se, para elas, só fosse possível sobreviver dessa maneira, juntas.
Entretanto, é preciso também entender como Vera é alguém inteiramente destacado no documentário. Ela é uma figura onipresente, através da participação como si mesma; da interpretação da mãe, quando fala de como as filhas eram quando crianças e as peripécias; e, por fim, na já citada antes narração persistente. Claro que existe um olhar dela, como atriz e figura importante na família, em interpretar a realidade como performática. Todavia, essa constante presença ofusca um pouco o olhar sobre as irmãs. As mesmas aparecem de forma mais concreta quando todas estão a mesa, juntas, para relembrar o passado. É justamente nessa característica comum aos brasileiros, que faz gerar uma conexão perante o público.
No fim, As Quatro Irmãs é um longa sobre essas conexões perdidas e o peso do tempo nas relações familiares. É uma espécie de sentimento nostálgico que não está mais em nossos lados quando crescemos. A responsabilidade impede a simples necessidade de viver com o outro e de relembrar quem somos.