Crítica – 100 Coisas Para Fazer Antes de Virar Zumbi

Zumbis, como quase todo bom monstro, costumam representar certas angústias das sociedades que produzem obras sobre esses seres, com a leitura mais famosa sendo sobre o clássico Madrugada dos Mortos como um comentário sobre a sociedade de consumo americana. Mas mesmo antes da reinvenção dos mortos vivos por George Romero, o mito original já continha dentro de si um temor: a perda do controle de si, de ser submetido completamente à vontade de outrem mesmo após o fim, um claro paralelo à experiência de ser escravizado.

Em 100 Coisas Para Fazer Antes de Virar Zumbi, entretanto, o apocalipse zumbi ganha outra conotação: o da liberdade, uma chance de viver uma vida fora dos trabalhos precarizados que consomem a vida de todos. Se é mais fácil imaginar o fim do mundo que o fim do capitalismo, talvez o fim do mundo não seja tão ruim assim.

É o que pensa Akira Tendo (Eiji Akaso), um jovem recém formado empolgado para entrar no mercado de trabalho. Mas, após um ano de exploração, horas extras não pagas e chefes abusivos, perdeu toda a alegria de viver e passa até mesmo a contemplar o suícidio. Sem poder pedir demissão, vive uma rotina miserável até que, um belo dia, o Japão é destruído por zumbis. Um desastre, certamente, mas, após o susto inicial, Akira só tem uma coisa em mente: Ele não irá precisar ir mais para o trabalho.

A idéia do apocalipse zumbi como um momento de liberdade já fez parte do filme Zumbilândia, mas aqui ela é o pilar central, com a trama se movimentando a partir dos anseios de Akira em explorar a vida que lhe foi negada até então, assim como inspirando outros personagens a fazer o mesmo. O longa é baseado no mangá Zom 100, e segue com certa fidelidade os primeiros capítulos da obra, tomando certas liberdades somente com o final, visto que o mangá ainda não se concluiu.

Talvez não seja uma comparação justa, visto que um desenho permite muito mais liberdade que o formato live action, mas é difícil não reparar o quanto 100 Coisas Para Fazer é pouco dinâmico em comparação a sua fonte. Tirando os momentos iniciais, onde o longa brinca um pouco com a sua forma, colocando o mundo mais colorido, por exemplo, para dar mais peso a esse momento de alegria de Akira, o longa se contenta em ser bem “básico” na sua exploração desse fim de mundo alegre.

Básico e surpreendentemente inofensivo. Apesar da crítica embutida na premissa, a narrativa se conforma em não oferecer grandes emoções que possam perturbar o espectador de certa forma. Seus ataques de zumbi são sem sangue, muitas coisas se resolvem com pessoas conversando em círculos. É curioso notar, por exemplo, que há poucas mortes de zumbis no filme, algo básico do gênero.

Há uma tentativa de tornar as coisas mais divertidas na parte final, com a inusitada presença de um tubarão para agitar o climax, tentando resgatar o espírito da obra original, mas acaba sendo tarde demais para deixar impressões para além da superficie. 100 Coisas Para Fazer Antes de Virar um Zumbi perde a grande oportunidade de fazer sua visão do apocalipse zumbi ser memorável, por simplesmente não explorar as angústias que formam a base da trama, e também por não trazer nenhuma criatividade para narrativa. Se contenta em capitalizar no sucesso do mangá e recém lançado anime. Pode atrair os fãs e alguns espectadores curiosos, mas nada além.

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