Crítica – Belgravia
Fazer uma série de época pode ser até algo fácil em termos práticos, já que, atualmente, o que não faltam são tramas que geram atenção dos telespectadores quando vêem algo do tipo. Mas como transformar isso em, minimante, visualmente curioso, interessante? Recentemente, Downtown Abbey e Bridgerton conseguiram trazer bem esse espírito, para histórias que buscam explorar algo simples e básico: a realeza. Julian Fellowes, um dos responsáveis por Abbey, tentou fazer o mesmo ao trazer toda a vida de Belgravia, numa busca por observar mais um certo lado perverso disso tudo. O grande problema é que, se sobra documento histórico, falta narrativa.
O principal cerne aqui é apenas um: o baile do Duque de Richmond, que acontece em junho de 1815 na cidade de Bruxelas. Só que isso acaba acontecendo duas noites antes da fatídica Batalha de Waterloo, que acabaria derrotando Napoleão Bonaparte. A família Trenchard é um dos destaques dessa noite, especialmente pela filha mais nova do casal, Sophia (Emily Reid). Ela chama a atenção de Edmund Ballasis (Jeremy Neumark Jones), que é filho e herdeiro de uma das famílias mais ricas da Inglaterra. O problema é que eles não podem ficar juntos formalmente e, assim, começam um romance proibido. As consequências dessa noite e, especialmente, do relacionamento escondido, acaba trazendo consequências posteriores quando essas famílias estão instaladas na região da Belgravia.
O drama histórico é realmente o elemento mais claro por detrás da minissérie (Tamsin Greig). Ele é um grande chamariz para o desenvolvimento das pequenas narrativas, especialmente de Anne Trenchard, a matriarca da família. O diretor de todos os seis episódios John Alexander imprime uma cadência inicial, que traz mais detalhes narrativos, a fim de contextualizar tudo para o telespectador, mas que perpassa por um lado mais agressivo das intrigas polícias posteriormente. Esse é um elemento fundamental para a produção em querer brincar de ser algo mais bobo, infantil, para dar destaque ao grande jogo de poder da situação, como foi feito em Downtown Abbey.
E essas questões funcionam particularmente bem em Belgravia. O grande problema é como elas, em boa parte do seriado, acabam sempre sendo jogadas de lado pela grande quantidade de subtramas que precisam ser desenvolvidas. O empenho inicial em absorver toda a relação de apenas uma família é deixado de lado para, especialmente nos capítulos 3 e 4, dar enfoque a um conglomerado de especulações dessa região. É como se fosse um ambiente tão efervescente, a ponto de não haver espaço para ter algo a mais. Mesmo assim, os elementos mais concretos acabam sendo deixados de lado.
O grande enfoque do desenvolvimento aqui é realmente essa relação entre famílias. Só que, essa questão por si só, acaba também sendo subjulgada em diversas situações pela forma como os episódios se desenrolam. Falta uma verdadeira identidade em termos de temática e também da maneira como tudo é pensado. Desse jeito, parece ser muito mais interessante em termos financeiros seguir numa toada padrão, como se não existisse outra forma de fazer tal tipo de obra. Sendo que, apenas nesse mesmo ano, algumas outras já foram capazes de buscar e ousar muito mais.
Desse jeito, Belgravia inicia de forma realmente curiosa e fazendo bem toda uma contextualização de um ambiente que pode ser uma bomba relógio: é capaz de explodir a qualquer instante, dado o nível das intrigas por ali. Contudo, ao dar muito espaço para todos os pequenos olhares de cada uma das famílias, é como se a série não buscasse querer realmente observar esse caminho mais complexo, e sim trazer toda uma carga “the crowniana”, por assim dizer. Sobra vontade para Julian Fellowes, mas faltam elementos para conseguir fazer do seriado aqui algo melhor.