Crítica – Boo, Bitch (Minissérie)

Boo, Bitch é uma série que parece até bastante comum. Seja na abordagem, seja nos personagens, ou até mesmo na forma como os episódios são desenvolvidos. Nele, acompanhamos a trajetória próxima ao fim do período escolas de duas amigas: Erika (Lana Condor) e Gia (Zoe Margaret Colletti). Desvalorizadas pelo grupo dos “populares”, as duas resolvem que vão mudar o jogo na noite próxima ao baile de formatura e, assim, serão valorizadas por todo o colégio. Acima de tudo, querem curtir a vida ao máximo. Até ai parecemos estar acompanhando a algo comum. O grande ponto de virada é quando descobrimos que a primeira está, na verdade, morta, e é um fantasma.

Mas longe da produção criada por Erin EhrlichLauren IungerichTim Schauer e Kuba Soltysiak buscar ser algo super dramatizado em cima disso. O elemento “fantasmagórico”, por assim dizer, serve apenas para o desenvolvimento cômico que a obra vai ter ao longo de oito capítulo. Desse jeito, a direção busca trabalhar uma dualidade entre as tentativas de compreender essa “existência” sendo um fantasma, ao mesmo tempo que as amigas continuam na busca pela popularidade. A produção não perde em momento algum esse caráter mais livre para a narrativa adolescente ganhar corda, tentando elucidar com o único arco dramático que é construído.

Nesse, passamos a ver o afastamento uma da outra, quase por não encaixarem nos mesmos universos e ciclos. Enquanto Gia quer resolver o problema da amiga e busca evitar o distanciamento, Erika se torna também popular e passa a virar uma celebridade online. Seu estado de espírito é até mantido em segredo, porém ele acaba sendo o grande desencadeador para essa cisão. Ao mesmo tempo que brinca com tudo isso, Boo, Bitch entende que esse elemento brincalhão é também fundamental para a complexidade dessas personagens. Neste sentido, pouco importa as relações românticas ou até mesmo a forma como essa popularidade vai se dar. O que realmente interessa é o cerne de uma amizade sendo rompida aos poucos.

É uma série que poderia transformar-se em comum, simplista e boba, mas consegue transitar no verdadeiro foco e debate que está sendo proposto. Longe de ser até piegas (apesar de soar um discurso um tanto quanto conservador perante as redes sociais), contudo esse desenvolvimento de um laço que aparece no decorrer de todo primeiro episódio, é fundamental para que o público possa compreender a dimensão que isso está sendo dado. Desse jeito, na maneira como a produção consolida os personagens até como idiotas, faz sentido o que está sendo desenvolvido.

Fica claro, apesar disso, que o seriado se prolonga bem mais do que deveria. E que dá espaço para algumas questões que acabam sendo bem menores – caso da relação de Erika com as populares. É como se houvesse uma necessidade de tornar aquilo tudo maior do que realmente está sendo pensado perante às protagonistas. Figuras falhas e incompletas, elas buscam apenas uma plenitude da vida de adolescência. Buscam um momento de brilho e de serem felizes. Por isso, faz tanto sentido o jeito como a conexão entre as duas é o traço fundamental dos capítulos. Óbvio que o pano de fundo mais “pop” se faz presente, mas ele, quase sempre, parece meio deslocado.

Boo, Bitch impressiona bem por conseguir fugir do esteriótipo que coloca a si mesma logo nos primeiros momentos. É uma série que consegue valorizar o que mais faz sentido nela, essencialmente destacando a amizade como valorização essencial. E tudo fica ainda mais impressionante quando pensamos em uma obra de 2022 – em que, cada vez mais, os temas adolescentes voltaram a ganhar espaço -, que consegue ter um pensamento próprio. No fim das contas, Erin EhrlichLauren IungerichTim Schauer e Kuba Soltysiak fazem com um grande brilho o que poderia ser só mais um produto.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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