Crítica – Carnaval

Se for possível definir Carnaval em apenas uma palavra, talvez a mais adequada seja simples. Afinal, a proposta do novo longa de Leandro Neri, que é produzido e distribuído pela Netflix, é ser apenas uma fábula de amizade. O problema é que a obra parece ter uma curiosidade um pouco curiosa em querer abraçar os diversos dilemas da juventude contemporânea. Desse jeito, em vez de ser apenas simples o filme acaba virando uma ode moralista sobre as redes sociais e o poder dos relacionamentos de amizade. Problema nenhum, e até concordável, mas é como se a produção se limasse de querer ser qualquer outra coisa.

Mas falando da história, acompanhamos a vida de Nina (Giovana Cordeiro) logo após o término de um relacionamento. Ela, que é uma subcelebridade nas redes sociais, tenta chegar ao número mágico de 1 milhão de seguidores e é totalmente viciada nessa busca. No meio dessa jornada, acaba sendo convidada para passar o carnaval na Bahia a custo do cantor galã Freddy Nunes (Micael). Assim, em vez da publicidade para a viagem, ela convida suas três melhores amigas para irem junto dela: Vivi (Samya Pascotto), Michele (Gkay) e Mayra (Bruna Inocencio). As quatro vão então no caminho de uma autodescoberta.

É bem formulaica a forma que Neri conduz os acontecimentos. Aliás, todos são baseados dentro de uma construção de relacionamento das amigas que demora a realmente se mostrar algo presente. E nem essa demonstração acaba sendo de maneira tão concreta, já que perpassa por apenas um flashback da relação da protagonista com Mayra sobre multidões. O enfoque da trama acaba sendo realmente os relacionamentos vividos por essas personagens dentro dessa situação, ou seja, a conexão delas com outros homens acaba sendo de maneira mais fortificada pela narrativa do que propriamente o conjunto de todas. A que mais funciona nesse sentido é um crush desenvolvido entre Vivi e Samir (Rafael Medrado).

Em muitos casos, todavia, Carnaval parece querer apenas reforçar o que simplesmente está indo contra. Enquanto tenta produzir uma história sobre mulheres no total de sua liberdade, as coloca sempre relacionadas com homens. É até possível lembrar A Noite é Delas, de 2017, que traz conexões similares nessa relação de amigas fora do seu ambiente natural e que precisam de uma certa libertação, ao mesmo tempo que conectadas sempre perante homens. Contudo a forma que é feita lá, com uma verdadeira expressividade narrativa para explorar até um experimentalismo no uso das drogas, por exemplo, aqui é retratado sempre de maneira a trazer um debate sobre moral. Desse jeito, o fim do longa reforça a necessidade de uma construção sobre um certo “poder do amor”. Até faz sentido, só que faz parecer apenas uma vontade de ser brega da obra.

Além disso, parece estar tudo bem baseado em uma grande crítica sobre as redes sociais e seu poder até “maligno” construído pelos acontecimentos. A exploração básica sobre o dano disso e a necessidade do real é colocada em exaustão em quase toda a trama e que vira ainda mais gigantesco com a proximidade do final e todo o reconhecimento para a personagem principal nas mídias. Os “famosos”, aliás, são aqueles que acabam menos conseguir sustentar uma identidade que não são nas redes.

Há uma tentativa clara de emular um estilo de filme sobre encontro de amigas e o que isso pode acabar acarretando em uma viagem. Porém, o grande problema de Carnaval é não abraçar mais seu caminho aberto a possibilidades da sua encenação, que sempre está baseada em um efeito para o público e não diretamente para a forma que o longa está sendo feito. Leandro Neri chega até a arriscar em certos instantes – como nos primeiros contatos de Nina e Fred -, mas que parecem querer ir pouco até um determinado ponto. No fim de tudo, é como se a produção realmente estivesse atrás de algo ali mais profundo, só que nem ela sabe o que.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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