Crítica – Castlevania (3ª temporada)
Atenção: Spoilers das duas primeiras temporadas
Ao fim do segundo ano de Castlevania uma grande dúvida foi colocada na cabeça do público. Com a morte de Drácula, o grande inimigo dos três “heróis” da série, qual poderia ser a maior dificuldade enfrentada? Tudo bem que estamos falando de uma produção em animação e ainda fantástica, ou seja, os limites do real e possível poderiam ser facilmente alterados. Mas, de cara, não é realmente isso que acontece. Tudo aquilo finalizado gera apenas uma continuação, com o casal Trevor Belmont e Sypha Belnades vagando pelas cidades em busca de uma habitação, além de tentar encontrar possíveis focos de domínio dos vampiros, e Alucard continua no castelo de seu pai.
Carmilla, que parecia a natural substituta de Drácula, não ganha tanto as caras inicialmente. O plano parece girar bem mais no entorno de Isaac, uma espécie de servo do senhor dos vampiros. Ele tenta dar continuidade ao plano de dominação na qual havia sido mandado nas duas temporadas anteriores, sem ter um seguimento muito claro com a turma das vampiras mulheres. Com mais poderes – porém demorando a mostrá-los em tela -, vemos um antagonista menos verborrágico e partindo para ação. Isaac é um ser muito mais reflexivo, tratando do controle pelas beiradas, em uma trama quase política. O roteiro do quadrinista Warren Ellis se afina bem a esse personagem, único, porém misterioso.
Na trama dos protagonistas – incluindo Hector mais nessa -, parece haver uma idealização de um lado pouco explorado antes: desenvolvimento do passado. Nada fica tão direto ou claro, como sempre ocorreu em Castlevania, todavia é interessante como percebemos os comportamentos mudando e a descoberta de uma relação de cada lugar com o passado dos heróis toma conta. Um exemplo claro disso é a cidade aonde Trevor e Sypha passam quase toda a temporada, na qual traz diversos segredos escondidos por circunstâncias não tão bem explicadas. E nem precisam ser, na verdade, mas apenas a colocação desses fatores os torna mais tridimensionais e não apenas combatentes.
O lado psicológico também reina nessas sequências, com episódios inteiros dedicados a diálogos e a uma tensão sexual onipresnete entre ambos. Tudo bem que eles já ficavam juntos e isso esteve sempre claro e aberto, mas esses 10 episódios tornam isso mais direto, com cenas de sexo acontecendo seguidamente. O mesmo pode ser dito com Alucard, que é, a priori, praticamente abandonado de tudo. Com a chegada de dois irmãos buscando serem seus aprendizes, ele vai ganhando camadas e possibilidades de diálogo. Apesar de pouco ser destrinchado sobre seu passado, muito já reconhecido, é interessante ver uma dinâmica de possibilidades para o futuro, algo bem trabalhado na cena final da temporada.
O terceiro ano de Castlevania faz, finalmente, a história andar bastante. Não necessariamente de um ponto de vista mais geral, porém coloca o jogo de xadrez para acontecer de forma mais vêemente nos episódios que virão a seguir. Carmilla, por exemplo, deverá ser uma das novas peças desse jogo, que promete ainda durar bastante tempo. A obra consegue trabalhar os olhares mais políticos de sua narrativa, além de entender um pouco o tempo de respiro, necessário após o épico e grandioso final da segunda temporada. Se isso irá durar aos olhos do futuro? Difícil dar certezas, porém a indicação é que sim. E contando com o que Warren Ellis já fez e surpreendeu até agora, não se pode descartaz de jeito nenhum.