Crítica – Diários de Intercâmbio

Histórias de intercâmbio talvez não sejam as mais comuns dentro do cinema nacional. Apesar da prática ser bastante comum no Brasil, talvez ela não tenha sido verdadeiramente explorada dentro da produção audiovisual daqui. Contudo, se tem alguém que poderia explorar isso bem é o cinema teen. E a aposta da Netflix junto da Paris Filmes com Diários de Intercâmbio parece ser uma verdadeira busca por isso. Afinal, conta com dois grandes nomes em termos de vendagem de elenco, buscando trazer uma trama universal sobre amor e juventude.

O filme conta a história de duas amigas: Barbara (Larissa Manoela) e Talia (Thati Lopes). A primeira trabalha como vendedora de uma revista de viagens no aeroporto e a segunda como pessoa que busca passageiros para uma companhia de táxi. Contudo, o grande sonho de Barbara é viajar para fora do país, e essa possibilidade só seria alcançada caso ela conseguisse um dinheiro extra do emprego, o que acaba não acontecendo. Com algumas ajudas, ela vai, junto de Talia, para passar um período de intercâmbio nos Estados Unidos.  Só que não imagina que, por lá, poderá encontrar tantas dificuldades de se adaptar a uma nova vida, além tentar entender quem realmente ama.

O diretor Bruno Garotti é realmente um entusiasta de um cinema mais jovem. Depois de já ter realizado Eu Fico Loko e Cinderela Pop, ele parece fazer aqui a maior busca por uma identidade própria. É menos uma relação com esse universo da internet e algo mais solidificado nos pequenos elementos que fazem essas pessoas viverem na atual geração. Por exemplo, a busca pelo trabalho e a tentativa de se adequar a padrões financeiros é algo que acaba sendo particularmente interessante no desenvolvimento da obra. Desse jeito, é quase como se o cineasta olhasse em Diários de Intercâmbio uma juventude menos ativa e mais desesperada (quase não vemos cenas de celebração, comuns nesse tipo de obra).

É curioso também como a produção investe bastante tempo em pequenas tramas que acabam pouco acrescentando ao desenvolvimento maior dessa espécie de coming of age mais adulto. Sendo assim, toda a relação de Talia com a família que encontra nos Estados Unidos é um grande item que apenas serve como um gancho para a piada dentro do clímax da obra. Contudo, é um elemento que serve menos a esse interesse de Garotti em entender porque os jovens são assim. É muito mais desenvolvida a forma como ele aborda, por exemplo, o fato de que as possibilidades para essas pessoas fora do país acabam sendo iguais as daqui: de sofrimento.

Além disso, há um grande olhar para os interesses amorosos no longa, que funcionam como mote principal: os triângulos românticos. Eles começam como um elemento mais lateral da narrativa, quando Brad (David Sherod) aparece logo nas primeiras cenas. Todavia, é algo que vai se transformando na maneira como os acontecimentos parecem conectados com um universo de, realmente, puro sofrimento. Dessa forma, o diretor abraça a possibilidade do absurdo, como a grande revelação do fim. Porém, isso também abre margem para que não ocorra um verdadeiro desenvolvimento das pequenas tramas a fim de trazer base e sentido para as mesmas.

Ao fim de tudo, Diários de Intercâmbio consegue brincar bastante com a própria forma de pensar os filmes adolescentes de comédia romântica. É uma obra que se solidifica no complexo, mas que nunca abre margem dos pequenos elementos mais interativos de sua produção. O grande problema é exercer e perder um grande tempo com as fagulhas menores da vida de Barbara e Talia. Bruno Garotti até parece, em certos instantes, querer usufruir de um melodrama que não está presente em instante algum no DNA da produção. Contudo, dentro dos pesares, faz muito mais sentido falar das dificuldades que dos grandes prazeres do trabalho dessas personagens.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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