Crítica – Dual

A premissa de Dual já é intrigante o bastante: em um mundo retrofuturista, pessoas que estão prestes a morrer, ou que decidiram cometer suícidio, podem contratar um serviço de clonagem, para que, quando o inevitável acontecer, o clone possa substituí-lo, evitando um enorme trauma para família e amigos. Mas, às vezes, pode acontecer do original simplesmente não morrer, seja por uma cura milagrosa ou decisão do próprio, e caso a cópia exista por tempo o bastante para ganhar personalidade própria, o impasse terá que ser resolvido em um duelo, conforme prevê a lei.

É absurdo? Com certeza, e o roteiro de Riley Stearns, que também dirige o filme, não esconde isso e até tira um pouco de sarro de sua proposta. “Não podemos ter duas de você andando por aí, isso seria absurdo”, diz um advogado para Sarah (Karen Gillan). Sarah contratou o serviço de clonagem após receber a notícia de que possui uma rara doença incurável e que certamente irá matá-la. Após 10 meses, o clone assumiu a vida de Sarah completamente – a ponto do namorado da mesma preferir a cópia –  e nada dela morrer. Uma visita ao médico revela que o improvável aconteceu, a doença desapareceu, e agora Sarah terá que matar sua cópia em um duelo televisionado, se quiser viver.

Dual não é um filme tenso sobre a expectativa de ter que matar a si mesmo, mesmo que apresente essa proposta logo de inicio, abrindo com um duelo entre um homem e seu clone. O longa está mais interessado no humor, um tanto seco e desafetado, remetendo muito a algo como A Lagosta, de Yorgos Lanthimos, com os personagens interagindo uns com os outros de modo frio e bizarro.

Não surpreende que, diante de tanta indiferença, um duelo até a morte seja transmitido nacionalmente, e é com essa questão que o filme caminha para seus momentos finais: alguém precisa realmente morrer? Porquê? Essa virada filosófica pode parecer uma tentativa de último minuto para engrossar uma trama que se sustenta mais na sua vibe do que outra coisa, mas que faz sentido diante do que vemos ao longo da narrativa. Seria o duelo só uma tentativa de trazer emoção para um mundo tão desconectado de si? Não há uma resposta concreta, mas Dual consegue levantar essa questão de modo intrigante e até mesmo divertido, se esse é o seu tipo de humor.

Texto para nossa cobertura do Festival de Sundance 2022

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