Crítica – Encounter

O início de Encounter disfarça muito bem o tipo de filme que ele na verdade é. Abrimos no espaço, e vemos um meteoro indo em direção ao nosso planeta, queimando na atmosfera e atingindo uma floresta, seguido por insetos ingerindo o que aparenta ser os restos do pedregulho espacial. A partir disso, somos levados a um quarto de hotel, onde um soldado (Riz Ahmed), olha com atenção uns documentos, até que é interrompido pelo barulho de…insetos. Jogando um repelente aerosol na fonte do som, ele se prepara para sair, e com seu arsenal de produtos anti-insetos e uma pistola.

Sem uma palavra, o diretor Michael Pearce já deixou bem claro que esses pequenos seres são um motivo de preocupação além do comum. Logo, quando vemos uma mulher ser picada por um deles, é difícil não ficar imediatamente preocupado com as crianças sob sua tutela, Jay (Lucian-River Chauhan) e seu irmão mais novo, Bobby (Aditya Geddada). Mas o dia de todos tranquilamente, até que a madrugada chega, e o pai dos dois – o soldado de antes, chamado Malik – aparece para levá-los em uma súbita road trip, que é na verdade uma desculpa para levá-los para uma suposta base militar, protegida dos insetos.

Assim, Encounter sabe muito bem instalar uma paranoia em relação aos pequenos seres, enfatizando sua quase onipresença seja no ambiente que for. Isso acontece tanto por meio do som, sendo raro os lugares onde a trilha não destaca o som de pequenas mandíbulas, patas e o que mais for necessário se movendo pelo ambiente, ou pela imagem, destacando que Malik realmente se preocupa mais com os insetos do que qualquer outra coisa. Em certa cena, o personagem, de dentro de um carro, olha para trás, parecendo consternado com um grupo de homens que ali está, somente para uma mudança no foco da imagem revelar uma série de insetos presa ao pára-brisa.

Só que logo outra camada de suspense vem à tona, a de que Malik pode não estar sendo 100% sincero com seus filhos, de que, talvez, não exista uma espécie de invasão alienígena ocorrendo por meio dos insetos. Não posso falar muito mais sem entregar boa parte da trama de Encounter, mas, como dito no início do texto, não é o tipo de filme que se espera diante da abertura.

E na verdade, uma das características do longa é uma certa mutabilidade. Vai do suspense com ficção científica, para um drama familiar, até um toquezinho de western, numa cena específica localizada em uma cidade deserta. É um tanto impressionante que mesmo diante de tantas mudanças, a produção consiga permanecer coesa, com uma encenação que se adapta muito bem a cada novo desenvolvimento.

O filme se perde um pouco, entretanto, ao realizar comentários sociais que, por mais pertinentes que sejam, são um tanto superficiais, e o modo como estes se fazem sentir na trama soam um tanto deslocados. Para comentar sobre o excesso de armas nos Estados Unidos, por exemplo, dois personagens altamente armados aparecem para atrapalhar a vida de Malik. Pertinente? Sim, caricato? Também, a presença dos dois soa um tanto estranha nesse suspense dramático, mas não chega a descarrilar a narrativa, que oferece muito mais qualidades do que problemas.

Esse texto faz parte da cobertura do Festival Internacional de Cinema de Toronto 2021

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