Crítica – Era Uma Vez um Gênio
O título original de Era Uma Vez um Gênio dá uma ideia sobre um dos temas mais prioritários do novo filme de George Miller: Three Thousand Years of Longing (ou, em tradução livre, três mil anos de desejo). Desejo esse que está totalmente relacionado com um dos protagonistas do filme, o gênio (interpretado por Idris Elba), concede três pedidos para uma mulher que encontra sua garrafa depois de muito tempo escondida. Essa mulher, Alithea (Tilda Swinton), uma historiadora e cientista, acaba por se levar por essa figura mágica e começa a ouvir todas as suas histórias anteriores ao momento em que se encontram.
O desejo não está presente apenas no caráter mais formal dos acontecimentos (os pedidos para o gênio), mas também no formato psicológico da narrativa, já que essa figura acaba se relacionando com diversas mulheres pelo tempo. No fim das contas, nem temos certeza da veracidade dos fatos, que sempre exprimem uma dose de irrealismo e lúdico, porém, somos introjetados dentro de uma grande história da humanidade por desejar. Miller, acima de tudo, transforma isso também em uma encenação sobre histórias e sobre o poder da crença no imaginário. É curioso até mesmo que, em um momento pós-pandemia, muitos filmes celebrem o mágico acima do real, como Não! Não Olhe!, Top Gun: Maverick, entre outros. Se antes a veracidade ganhava espaço no cinema comercial de Hollywood, isso parece começar a mudar de figura, em uma tentativa de fuga do mundo que vivemos.
Mais do que apenas uma ode para o lúdico, Era Uma Vez um Gênio também é uma gigantesca homenagem ao ato de contar histórias. Elas podem ser aumentadas, podem ser absurdas, mas são, sobretudo, sempre humanas. Sempre trazem morais, sentimentos, observações e práticas culturais históricas. Além de tudo, são humanas, e, por isso, acabam em uma tragédia. Dessa forma, os relatos do gênio são também uma grande passagem pelo conhecimento que irá chegar, de maneira mais científica, nos estudos de Alithea. É quase como se houvesse uma retroalimentação entre o real e a mentira.
Apesar disso, o longa de Miller peca em não saber o quanto de tempo precisa para destrinchar cada um dos acontecimentos. Cada conto demora bem mais que o necessário e acaba trazendo um inchaço para uma narrrativa que não tem muita intenção de olhar os pormenores da ocorrência. Por exemplo, em uma das tramas, o gênio ajuda uma mulher a ter um filho de um príncipe e, assim, tentar participar da família real. O problema é que narrativa se desenrola em diversos pequenos pedaços desse reino, e que nunca traduzem em nada para a temática prioritária.
Desse jeito, a obra cresce bastante em sua segunda metade, que foca realmente na relação entre os dois protagonistas. Eles, totalmente diferentes um do outro, entretanto que começam a abraçar e compreender o conhecimento de cada um. A retroalimentação é mais um indício dessa grande narração de amor pelas histórias, já que acabam sempre trazendo algo novo para os que estão ouvindo as mesmas. E as fazem sempre se apaixonar, e desejar participar delas.
Era Uma Vez um Gênio soa até mais impressionante nos pensamentos do público do que propriamente no que é apresentado em tela. Longe de ser uma produção que perde qualquer coisa da sua própria beleza, porém acaba sendo muito maior que deveria e cansando em certos instantes. George Miller, todavia, não tem receio de mostrar que realmente é um cineasta e coloca tudo dentro da tela. Se o ato de contar histórias pode ser fortemente relacionado com uma ideia de roteiro, ele aqui é presente na forma, na encenação do diretor com isso. No fim de tudo, o que realmente interessa é o jeito que isso vai sendo passado ao longo da história. E, independente de quanto tempo for, em como o desejo vai sendo entendimento pela humanidade.