Crítica – Espero Tua (Re)Volta

“Existe uma coisa que realmente mexe com políticos: é a opinião pública”. Talvez essa frase seja uma boa síntese do que se trata Espero Tua (Re)Volta. Basicamente, sobre o embate entre as forças do poder público e a população. No caso, ela aqui representada pelos estudantes e, especialmente no recorte dos colégios ocupados no Estado de São Paulo. Contudo, a diretora Eliza Capai rememora desde as jornadas de junho de 2013 para contar a trajetória política do Brasil até o momento atual, com a eleição de Bolsonaro. O objetivo? Inflar a revolta demarcada ao longo desse tempo e um pouco perdida nos últimos.

Para buscar essa visão, a cineasta não parece buscar tanto uma voz própria do telespectador em olhar para tais imagens. Se a trilogia da Batalha do Chile, de Patricio Guzman, olha bem mais para toda uma questão cenográfica e imagética do país, Capai traz todos os sentimentos através de sua linguagem. A estética proposta por ela é, basicamente, buscar um pensamento mais jovem, tratando deles falarem sobre o que enfrentaram durante as ocupações. Por isso, Lucas Koka, Marcela Jesus e Marcela Souza são os grandes protagonistas dessa história. Eles, muito mais do que simplesmente narradores das situações, trazem um ar bastante remontador, em tentar olhar seu ponto de vista para algo.

Por um lado, é possível entender isso como algo até negativo, visto que o longa busca um diálogo. Ao adotar esse tom mais frenético entre cortes e até demonstrando os diversos comportamentos da juventude (as músicas, os beijos, entre outros), ele tenta expressar um novo olhar para quem não entendeu. Inclusive, em um determinado momento, uma das personagens até expressa isso quando fala de protestos na rua – “tia, precisamos que você se atrase para o trabalho para poder comentar com seu colega que tem uma juventude buscando melhora na educação”. Contudo, essa amenizada parece contrastar demais com o próprio enfrentamento dado na obra a todo instante.

O público, assim, as vezes é visto como refém e em outros como uma espécie de estudante nessa situação. Quando o filme tenta por si só apreciar esses instantes mais próximos, ele funciona mais diretamente nessa questão do diálogo e ao expressar suas ideias temáticas. Por exemplo, quando aparece o menino sendo levado pela política e um dos personagens pergunta: “se coloque na situação desse menino”. A cena, chocante por si só, toma contornos ainda maiores, buscando realizar um aprendizado para a audiência em entender tudo isso, quem são esses jovens, e por que realizam isso.

Entretanto, é quando expressa um lado menos diretamente roteirizado que a produção mais cresce. Uma das sequências finais, onde um menino amigo do grupo entrevistado é abordado na rua, enquanto eles continuam a conversa tratando daquela situação como natural choca por si só. A costumeira abordagem sofrida por essas figuras sociais, não os fazem sentir nenhum sentimento diferenciado nessa questão, apenas rotina mesmo. Ao final desse período, inclusive, é interessante como os próprios observam o fato de ter o papel de que a bicicleta foi comprada uma luta contra o sistema. Outro grande momento como esse é todo sofrimento de uma das personagens por toda a questão emocional em torno de uma abordagem policial próxima a sua casa. Aquele instante, mais diretamente verdadeiro, traz um aspecto emocional mais interessante para o desenvolvimento dos três.

Espero Tua (Re)Volta é um filme que busca uma questão mais clara e com um lado bem específico sobre as manifestações populares. Apesar disso, ele soa um pouco confuso nas mais diversas temáticas que surgem e poderia dar um enfoque mais direto e claro a todo movimento de ocupação nas escolas. Quando ele acaba sendo menos encenado e mais sentido, impressiona pela potência mostrada nas mais diversas manifestações, como exemplo. Dessa forma, Eliza Capai busca fazer a sua obra como um tratado político claro, sem medo nenhum do que poderia acontencer. Demonstrando com seu olhar o enfrentamento de tudo e de todos, ela mostra o espaço de mudança da sétima arte nas suas mãos.

Leia também nossa crítica de Democracia em Vertigem.

Confira o trailer do filme:

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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