Crítica – Glass Onion: Um Mistério Knives Out

Glass Onion: Um Mistério Knives Out começa com um mistério. Parte dos integrantes de uma futura festa do milionário Miles Bron (Edward Norton) recebem caixas misteriosas. Juntos, eles vão atrás de tentar entender o quebra cabeça da caixa e, ao fim, recebem o convite para ir até a ilha do guru tecnológico. São pessoas e personalidades diversas, desde a política Claire (Kathryn Hahn) até mesmo o streamer de extrema-direita Duke (Dave Bautista). Todos com dinheiro e um pouco fora de uma realidade social. Assim, vão para o local junto do detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) para resolver um mistério que ainda não aconteceu: quem vai matar Miles?

O título e a forma como Rian Johnson dirige a sequência do primeiro Knives Out, ou Entre Facas e Segredos, dão a cara de uma espécie de spin off desse segundo trabalho dentro do universo. Contudo, o diretor parece querer olhar de uma forma ainda mais cínica para os próprios personagens que cria. Se no primeiro essa grande brincadeira buscava um lado mais cômico, aqui o olhar é mais atrelado ao rídiculo, absurdo, chegando até a vergonha alheia em muitos momentos. É como se Johnson trouxesse uma caricatura menos absurda do que no primordial, contudo que visa brincar com os próprios personagens nessa ideia do que eles representam.

Por isso mesmo, Glass Onion: Um Mistério Knives Out não quer ser nada complexo ou busca desafiar o público. Ele o trata igualmente como os personagens, como caricaturas. É um universo amplamente focado no absurdo, mas em que todos fazem tudo de forma natural. Assim, o cineasta e roteirista entrega o grande “mistério” logo na sua metade, podendo tornar tudo até meio enfadonho. Entretanto, sua intenção é justamente explorar os efeitos de como cada uma dessas peças vai reagir sobre o que o público já saber por completo.

Em certo sentido, fica claro como Rian Johnson sabe se inspirar em tramas policialescas, especialmente em Agatha Christie, porém utilizando de uma cara cinematográfica para tudo. A partir do momento em que tudo pode ser usado em prol da tensão, do suspense, nada pode também. Invertendo essa lógica, o diretor brinca com a maneira como cada um dos personagens espera algo acontecer, porém que nenhum deles sabe para qual caminho levar. Aliás, ele constrói variadas expectativas (desde Benoit dizendo para Miles que ele reuniu pessoas que tinham motivos para matá-lo, até mesmo na cena do quadro da Monalisa, em que se solidifica em um cenário perfeito para a morte). Todas elas que se frustam, e, em seguida, podem ser realidade. É um grande joguete investigativo e de cinismo com a audiência.

O maior problema é como o longa se excede demais em determinadas questões observadas por Johnson como “incríveis”. As tentativas de construir algumas pegadinhas pequenas para a audiência soam infladas e até tornam a duração dos fatos um tanto quanto cansativa no trecho final. Porém, é justamente esses elementos que constituem a força de um clímax menos relacionado ao suspense ou tramas policiais, e mais combinadas com uma história dramática. Ele tenta até construir uma certa metáfora da ilha (de todos estarem presos nesse mundo), só que o que funciona é justamente o lado mais “na cara” e menos as possíveis camadas contidas na ideia de cebola do título.

Glass Onion: Um Mistério Knives Out pode parecer um filme um bobo, previsível, rídiculo. E é justamente isso que Rian Johnson quer passar com sua trama totalmente enfadonha. O cineasta, que tem se notabilizado recentemente por tentar desmisticar universos (como quando fez Os Últimos Jedi), busca olhar para esse mundo sob uma outra faceta. Igualmente irônica, porém com uma certa visão menos utilitária de tudo. Ele coloca o público no papel de uma trama policialesca clássica, ou seja, óbvia. E ela é construída para ser enxergada na forma como olhamos para essas mesmas histórias: cheios de desdém.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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