Crítica – História de um Casamento

Divórcios são situações traiçoeiras. Se separar de alguém que você já amou – ou talvez até mesmo ainda ame – é um processo que pode trazer à tona o pior das partes envolvidas. Em um piscar de olhos, uma situação que parecia caminhar para uma conclusão tranquila, pode se degradar para uma guerra de gritos e de quem consegue machucar mais o outro. História de Um Casamento, novo filme de Noah Baumbach para Netflix, se propõe a ser um retrato dessa situação tão difícil, mas também rotineira e, às vezes, necessária.

O longa acompanha o casal Charlie Barber (Adam Driver), um respeitado diretor teatral nova iorquino, e Nicole (Scarlett Johansson), uma atriz que frequentemente estrela nas peças do marido. Durante o processo de divórcio iniciado por ela, que sente que Charlie não considera suas vontades e aspirações, tudo começa. Apesar de, inicialmente, ambos concordarem em um processo amigável, as coisas logo mudam de figura na disputa pela custódia de Henry (Azhy Robertson), filho do casal, já que Nicole passa a morar com ele em Los Angeles, perto de sua família, algo na qual Charlie encontra dificuldades em fazer, já que sua vida é baseada em Nova York.

Baumbach já explorou as dinâmicas de um divórcio antes, no longa de 2005, A Lula e a Baleia, e há muitas similaridades entre os dois trabalhos, já que nos dois filmes são casais com aspirações artísticas que se separam. Mas, na primeira produção, o foco era mais no impacto do processo na família como um todo, particularmente nos filhos, além do tom mais voltado para o humor ácido. Em História de Um Casamento, embora ainda exista humor, o ponto focal é o drama e em como essas duas pessoas lidam com essa situação que escapa de suas mãos, ao mesmo tempo que a conduzem.

O cineasta escolhe apresentar essa narrativa de modo bem comedido, e deixar o que a obra tem de mais forte brilhar, que são as atuações de Driver e Johansson, e as decisões do diretor são todas em prol de fortalecer a dinâmica entre os dois. No grande clímax emocional do filme, por exemplo, o constrangimento e a confusão dos dois são enfatizados através da montagem, com planos mais longos e abertos que buscam evidenciar a busca por palavras dos dois, com a agressividade dos dois aumentando, os cortes passam a ser mais bruscos. Além disso, há um uso de close-ups cada vez mais fechados, isolando um do outro, cada um preso em sua própria angústia sem realmente escutar o outro, com diálogos e cortes se sobrepondo.

Existe um claro esforço em não vilanizar nenhuma das partes. Não é um filme em que alguém “mereça” vencer, mas há alguns momentos que Nicole acaba caindo no estereótipo de “esposa amargurada”, já que passamos mais tempo com Charlie do que com ela, o processo emocional dela para algumas decisões acaba sendo omitido. Dessa forma, o personagem de Driver fica com uma aura de vítima. No todo, essa perspectiva é rejeitada, mas se faz sentir pontualmente.

História de Um Casamento não vai mudar sua visão de relacionamentos ou similar. Não há grandes reviravoltas ou revelações, é uma história simples, na qual acontece todos os dias, aconteceu com meus pais, e talvez ocorra comigo, mas é definitivamente muito bem contada, que revela as imensidões de algo tão comum.

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