O amadurecimento na 3ª temporada de Stranger Things

Uma das frases finais da 3ª temporada de Stranger Things fala sobre crescer. Como, quando passamos a não ter os mesmos interesses de antes e não sermos mais os mesmos, mudamos, amadurecemos. Esse talvez seja o grande tema retratado em torno desses oito episódios que compõem o novo ano. Se antes víamos apenas todos os personagens como crianças, agora eles já são demosntrados adolescentes. Mike (Finn Wolfhard) namora Eleven (Millie Bobby Brown) fazendo o pai dessa, o policial Jim (David Harbour), sofrer. O jogo de RPG Dungeons and Dragons, constantes antes, agora não fazem parte da rotina dos personagens. Dustin (Gaten Matarazzo) retorna de um acampamentos de ciências com uma namorada. Esses pequenos elementos já denotam o amadurecimento dessas figuras na qual aprendemos a gostar.

Nisso, uma grande trama surge por detrás. Não apenas os de sempre monstros e demogorgons, agora os russos ganham seu papel. Em um período ainda finalizador da guerra fria – algo supracitado durante o seriado -, eles são culpados por compras de terrenos em Hawkis. A cidade ainda sofre devido a uma problemática política em torno da construção de um Shopping, o Starcourt. Essas pequenas relações acabam colocando em cheque tudo sob os protagonistas. Eles deverão enfrentar isso, para tentar entender se a cidade, realmente, mais uma vez, está sendo atacada.

Uma das correlações mais diversificadas impostadas nesse ano está em torno da divisão em grupos dos personagens. Anteriormente, muitas das questões e sequências de ação acambavam acontecendo com todos os tela. Aqui, temos um outro caminho: a divisão para um desenvolvimento. Nisso, diversos personagens secundários ou novos possuem um desenvolvimento para caminhos ainda mais interessantes. Steve (Joe Keery), por exemplo, bastante rechaçado, ganha um arco próprio sobre entendimentos de si mesmo junto de Dustin e a novata Robin (Maya Hawke). Entre eles também está a até então terciária Erica (Priah Ferguson), irmã de Lucas, um dos alívios cômicos aqui.

Contudo, é interessante perceber a forma na qual Billy (Dacre Montgomery) ganha destaque nessa temporada. Após aparecer como uma espécie de vilão bullying nos episódios anteriores, aqui ele ganha uma carga anterior. Até é possível perceber um certo caminho da produção em perceber ele não como ruim, mas numa busca de entendimento. De realmente entender como chegou até ali. Os dois episódios acabam sendo mais relevantes nesse sentido. E, esses entedimentos com base em flash backs, acabam trabalhando, do mesmo modo, um outro entendimento sobre Eleven. Apesar desse amadurecimento e busca de questões pessoais e gostos, algo nada explorado antes, nesse ano é aonde tudo aparece. Suas diversas cenas junto com Max (Sadie Sink) acabam cenografando um dos poucos períodos cotidianos, fato quase de um sentimento nostálgico.

Esse caminho do amadurecimento acaba sendo relevante a sinergia entre os diversos arcos. Isso perpassa até pela narrativa da obra, anteriormente muito mais ‘boba’ e agora complexa. O lado político, por exemplo, é um desses pontos importantes. Apesar dele ser explorado através de questões menores e tudo em torno da relação entre Jim e o prefeito, demonstra um DNA meio americano. A corrupção, a venda para qualquer um, uma não valorização da cidade. Tudo isso está conectado nessa subtrama, passando também por um abandono da loja de Joyce (Winona Ryder). Enquanto isso é possível ver a inovação sendo tomada dentro do shopping, sendo salientado por causa da estética neon forte. Aliás, esse lado imagético – muito explorado nas duas temporadas anteriores – dá abertura para uma exploração do desenvolvimento desses personagens. Um grande acerto após o esquecimento maior de alguns.

Falando sobre crescer, a 3ª temporada de Stranger Things lembra da problemática disso. Por um lado, mais emotivo, trabalhando fortemente na cena final. Por outro, quase crítico em um pensamento pessoal, salientado pela referência a Enigma de Outro Mundo, de John Carpenter, e a questão dos romances. Nisso, a série demonstra-se diferente e renovada, de certa forma. Após diversas críticas perantes o último ano, isso parece abrir outras portas agora. É uma demonstração clara de um início de um fim para o seriado, na qual é possível observar como estão diferentes. E, de certa forma, isso também denota uma realidade para todos. Independente das dificuldades e complexidades da vida, vamos mudar e amadurecer. Sobre isso, é impossível discordar.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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