Crítica – Jumbo

Não há como escapar da sensação de estranheza ao se deparar com a premissa de Jumbo, longa de estreia da diretora Zoé Wittock. Por mais que romances entre pares distintamente diferentes um do outro tenham alcançado certa popularidade nos últimos tempos, especialmente devido a filmes como Ela, em 2013 e A Forma da Água, em 2018, Jumbo talvez seja o que mais desafia a percepção dos espectadores, já que o seu par principal é formado por uma jovem mulher e uma atração de parque de diversões. Sim, é isso mesmo.

Apesar da proposta absurda, Wittock, que também roteiriza a obra, não se apoia no absurdismo para sua narrativa. Pelo contrário, apostando na sinceridade dos sentimentos de Jeanne (Noémie Merlant) e tratando com seriedade a afeição dela pela máquina. Não se trata de uma comédia, sátira ou afins, mas uma história de amor pura e simples.

Bem, simples é a maneira de dizer, diante do material. Jeanne, a protagonista, é uma jovem adulta que vive com sua mãe, Margarette (Emanuelle Bercot). Apesar disso, as duas são um tanto opostas, com a matriarca sendo extrovertida e a filha mais fechada em si mesma, com dificuldades em lidar com outras pessoas, especialmente homens. Fascinada por parques de diversão, Jeanne constrói miniaturas das atrações do parque em que trabalha, e lá se depara com o brinquedo Move It. Sendo a responsável por limpar os brinquedos no turno da noite, Jeanne começa a desenvolver sentimentos pelo brinquedo, que parece recíproca-los – por mais incrível que pareça. A relação inusitada, é claro, levará a tensões com aqueles ao redor de Jeanne que não entendem o que se passa.

Como previamente dito, Wittock se preocupa em tratar com seriedade a relação entre sua protagonista e a máquina, o tal “Jumbo” do título. Ao filmar Jeanne tocando a atração, por exemplo, a diretora busca enfatizar a delicadeza do toque, como se uma pessoa estivesse tocando aquele que ama pela primeira vez. O aspecto sensorial da relação é o mais enfatizado para torná-la crível. O mais emblemático disso é a cena em que os dois “transam”, que é quase uma releitura das cenas de ataque do longa Sob a Pele, mas num cenário branco ao invés de escuro, no entanto igualmente vazio, deixando o foco na reação de Jeanne ao “toque” de Jumbo.

Se a relação mulher e máquina é bem desenvolvida e interessante de se acompanhar, o aspecto humano da história é um tanto desengonçado, especialmente por querer inserir elementos que soam pouco naturais a história. Um dos exemplos é um grupo de garotos que aparecem pontualmente para tirar sarro de Jeanne. É nesse aspecto também que é possível perceber a relação principal de Jumbo como uma metáfora para uma relação LGBTQ+, devido a reação da mãe ao ter ciência sobre o casal, a frase “não quero que o mundo te faça sofrer!” aparecendo nas discussões entre as duas, com a matriarca ignorando que quem está causando sofrimento a filha é a própria.

Não dá pra negar a coragem de Wittock ao tratar sua história tão absurda de modo tão franco, porém é justamente isso que faz a história funcionar, procurando explorar a fundo as sensações do amor de Jeanne. Mesmo assim, o filme acaba dependendo um pouco demais dessa atipicidade na sua narrativa, deixando outros aspectos um tanto subdesenvolvidos

Filme faz parte da seleção do festival Fantaspoa 2021.

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