Crítica – Made for Love (1ª Temporada)

As cenas iniciais de Made for Love mostram uma dualidade que será o grande chamariz temático da série. Em uma, acompanhamos Hazel (Cristin Milioti, de How I Met Your Mother) fugindo de uma espécie de bunker no qual seu marido, Byron (Billy Magnussen), está. Na outra, vemos ele realizar um sexo oral nela, e os dois possuírem uma, aparente, boa relação. Tal questão é exatamente sobre o que a produção está atrás de discutir, mas sem partir para um lado totalmente dramático disso. A ideia é justamente se utilizar desse elemento de um relacionamento abusivo – a qual saberemos no decorrer dos episódios – para expressar uma busca por libertação, só que isso tudo de forma cômica.

Os criadores Patrick SomervilleAlissa Nutting sabem expressar bem essa conexão entre comédia e ficção-científica por parte de como universo vai ser construído. Existe uma relação para colocar cada piada sempre de forma bastante curiosa, as transformando, em muitos momentos, até em vergonha alheia. Porém, é interessante como isso não é abrupto e sim necessário para colocar o nível de absurdo para qual os personagens estão se relacionando. Não existe nenhuma normalidade na forma que a encenação é proposta. E isso perpassa desde essa conexão mais dramática e de graça, até o lado de como os cenários são propostos (quase como pós-apocalíptico, por exemplo).

Apesar disso, para fazer sentido toda a formação que iremos acompanhar no presente, a narrativa da série é trabalhada sempre com flashbacks. Nesses momentos que acompanhamos o maior desenvolvimento da relação do casal e de como eles chegaram até ali. O que os liga, todavia, é a tecnologia criada por Byron, de fazer os casais poderem ver tudo que o outro está fazendo através da implatação de um chip. Tal elemento vai ser fundalmental para diversas linhas que surgem ao longo da história. Ao mesmo tempo, esse também é o catalizador para a fuga de Hazel e sua percepção sobre como esse “amor” entre os dois não parecia tão real assim. Ela que, no caso, se transforma na paciente 1 desse experimento.

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Aliás, a protagonista é um grande estopim para sempre conexões bastante duvidosas que aparecem nos capítulos. Se com o marido já tem suas particularidades (que são destrinchadas em pequenos elementos, como o fato dele não conseguir ejacular com ela), o mesmo acontece com a figura do pai Herbert (Ray Romano). É para lá o seu primeiro ambiente de fuga. Diferente de um acolhimento, entretanto, apenas encontra mais um sofrimento. Isso vai desde a relação entre os dois – a qual possui uma eclosão nos episódios finais -, até da prórpia maneira mais infantilizada que ele observa a vida (ele possui uma boneca como “namorada”, por exemplo).

Made for Love gosta de usar esses elementos menores, e que são necessários para deixar claro sobre a trajetória do drama da produção, como maneira de expressar um riso sobre tudo que acontece. É como se a obra tivesse o interesse a todo instante de rir de si mesma, algo também muito feito por The Last Man on Earth recentemente. Esses seriados entram em uma lógica mais contemporânea de exacerbar certas ideias e até problemáticas da sociedade – no caso daqui, um relacionamento tóxico e abusivo – para tentar trazer um olhar de transformar a desgraça em alguma possível graça pelo absurdo.

Ao seu fim da primeira temporada, Made for Love consegue ser uma série que não neglicencia suas possibilidades narrativas, ao mesmo tempo que também não tem nenhum receio de se expôr. Contudo, é curioso como os dois homens problemáticos da produção sofram redenções passageiras para, em sequência, realizarem atitudes tão horríveis quanto. É como se, independente de tudo, Hazel se transformasse em uma fonte de sofrimento por parte desse jogo da sociedade patriarcal. Desse jeito, os oito capítulos deixam claro que existe uma complexidade em analisar essa relação e em como ela gera desenrolares tão difíceis de entender quanto. Com um início promissor, novas temporadas ainda podem trazer mais camadas para essa temática.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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