Crítica – One Piece (Primeira Temporada)
Adaptações definitivamente não são coisas fáceis. Recentemente, falei da sina das transformações em live-action (ou até mesmo animação) de games. Porém, a situação pode ser tratada como similar ou até mais complexa se falarmos dos animes e mangás. Esses que, se olharmos apenas o mercado dos Estados Unidos, obras como Ghost in The Shell (2017), Dragonball Evolution (2009), Alita: Anjo de Combate (2019) e mais, vem a tona. Entretanto, é possível dizer que esse debate mudou de figura quando os japoneses fizeram adaptações em live-action de produções como Samurai X, Gantz e, até mesmo, Death Note. Contudo faltava a principal obra. O mangá mais vendido de todos os tempos e o anime de maior sucesso da história fora de sua terra natal. Faltava One Piece.
Cerca de 26 anos depois de seu lançamento nos quadrinhos japoneses, a obra ganha sua versão com atores nos Estados Unidos. Feita pela Netflix. Apesar de muitos fãs reclamarem de forma efusiva muito antes de tudo sair, era claro como haveria um cuidado. Parte disso se mostra pelo envolvimento sutil do criador original, Eiichiro Oda. O mais importante, na realidade, nem era tão difícil de ser alcançado, visto que o seriado buscava ser uma transposição bem fiel do material fonte e, ao mesmo tempo, soar divertido para apresentar a um público inteiramente novo.
E essa versão criada por Steven Maeda e desenvolvida por ele com Matt Owens se sobressai justamente por conseguir ser tão única. Parece estranho, mas é até impressionante como os oito episódios dessa primeira temporada caminham com pernas próprias, capazes de apresentar todos os personagens fundamentais e já os transformá-los em tão cativantes. Se a animação sempre se destacou por conta do carisma e da relação entre o banco, One Piece enquanto série de TV segue a mesma trajetória.
A trama fala de um jovem menino com poderes, Luffy (Iñaki Godoy), que tem o sonho de se tornar o rei dos piratas e encontrar o tesouro One Piece, deixado pelo antigo rei antes de ser morto pela Marinha. Para isso, ele acaba encontrando amigos e uma tripulação no caminho, composta por Zoro (Mackenyu), Nami (Emily Rudd), Usopp (Jacob Romero) e Sanji (Taz Skylar). Pode soar tudo simplista e bobo, e é justamente isso que a própria obra passa. Ao buscar ser – literalmente – uma adaptação, abraçar o lado mais infantil e lúdico do material deveria ser o óbvio, que não é feito em muitas ocasiões.
Aliás, parte do carisma em One Piece está justamente nessa extrapolação, em nunca levar seu universo como algo rígido, sério. Como dito antes, faz parte dos dois lados. O seriado se utiliza das próprias caricaturas e do que esperar para se tornar simplista, até mesmo. Esse absurdo, aliás, que pode gerar de cara um estranhamento, porém que também coloca o público como alguém que está entrando na viagem louca que essa história se propõe. Por isso mesmo, o mundo é tão rico e até mesmo a brincadeira com os sonhos de cada um parecem reais.
Apesar de trilhar caminhos bem parecidos, os oito episódios primordiais também tem suas próprias pernas. Não a toa, dá destaque a questões que só aparecem com mais relevância pare frente no anime/mangá, como a importância de Koby (Morgan Davies) e até mesmo a relação de Garp (Vincent Regan) com Luffy. Todavia, isso também serve para adiantar certos conflitos, necessários por conta do diferente tempo que uma série terá de uma animação. É como se esse espaço aberto para novidades nunca soasse estranho, até mesmo para os que conhecem. A naturalidade faz parte desse mesmo absurdo.
Por isso tudo que a primeira temporada de One Piece é uma obra que cumpre seu principal objetivo. Só que, mais do que isso, consegue soar como grandiosa, lúdica e carismática ao mesmo tempo – muitas vezes até mais que a animação. Dessa maneira, ao buscar tanto o uso da primeira pessoa e da perspectiva, é quase como se o seriado colocasse o telespectador junto dele, como parte do bando. Mais do que isso, como citado antes com os jogos, como um jogador. Alguém capaz de também entender um pouco dessa loucura.