Matangi/MAYA/M.I.A. é um retrato fiel e político de uma personalidade

A figura da cantora M.I.A. sempre foi tratada como polêmica e, ao mesmo tempo, extremamente diferenciada musicalmente. Essa construção de imagem feita pela mídia fez com que sua carreira fosse feita de momentos excelentes, ainda que turbulentos.Porém, algo nunca tido pela artista em si foi um direito de resposta para tudo relacionado aos seus escândalos, sejam eles concordáveis ou não. Matangi/MAYA/M.I.A. serve exatamente para isso. Entender quem ela é realmente e os porquês da sua diferenciada carreira musical.

Um dos artifícios iniciais já utilizados pelo documentário é a justificativa para o seu constante ativismo político sobre imigrantes e a questão do Sri Lanka. Nos seus primeiros 20-30 minutos, a obra praticamente reconta a sua juventude, destacando a imigração muito cedo para a Inglaterra, devido à participação que seu pai tinha em um grupo anti-governamental. Essa radical mudança de vida e perspectiva estabelece também o contato com a música americana, citando nomes como Madonna e Public Enemy – ambos responsáveis pela sua futura construção rítmica. Para além de estabelecer M.I.A., o objetivo aqui é buscar uma compreensão de todas as ocorrência dali para frente, principalmente sua militância e das suas relações familiares, gerando uma apatia para com o público. É quase o uso de um flash foward, para ser mais exato.

O diretor Stephen Loveridge trabalha muito no enaltecimento da artista, como em um plano longo que se transforma em um contra-plongée, trazendo um olhar admirado e quase épico. Isso decorre, do mesmo modo, pela história impregnada em diversas filmagens de arquivo feitas pela própria protagonista, pois seu grande sonho era ser uma documentarista (isso é transformado em poesia visual num dos diálogos finais, com sua vó). A partir desses detalhes, o cineasta busca mediar a ideia de um estudo de caso e estudo de personagem, nunca tirando a câmera do olhar da personagem principal.

A narrativa balanceia acontecimentos positivos e negativos dentro da vida da cantora, até o ano de 2016. Dentre os casos destacados como uma ruptura de ascensão, estão: a defesa do genocídio acontecido contra seu povo no Sri Lanka e o famoso dedo no meio para o público americano durante apresentação no Super Bowl. Aliás, esse segundo momento desencadeia algumas características um pouco reprimidas dessa, como seu lado mais energético (pouco apresentado durante os 95 minutos). Mesmo com esse balanceamento, não há por parte da montagem uma construção de ruptura, trazendo as partes de forma bem firme e sem uma real naturalidade. Apesar de funcionar em um sentido de crueza, perde no quesito de verossimilhança.

A carreira musical de Maya tem seu espaço dedicado em praticamente dois terços da película. Sempre retomando esse instante primordial das suas referências dentro da primeira arte, o longa caminha pelos próprios passos ao tentar entender a sua própria construção artística. Os maiores espaços ficam para seu álbum de estreia – pelo seu extremo sucesso pela divulgação ilegal no Napster – e Kala, a grande “obra-prima” da sua história, por enquanto. O proposito em focalizar nos conceitos de seus videoclipes, sempre na ideia de mostrar o que não quer ser visto pelo público, cria ainda mais camadas para sua personalidade devidamente impressionante, afora o caráter político das produções.

Matangi/MAYA/M.I.A. pode não ser totalmente perfeito em sua estrutura, mas é excelente em seu propósito de fazer o público entender quem realmente é a figura de M.I.A.. O filme não tenta revelar um ‘por trás das câmeras’, mas sim uma resposta às diversas declarações tanto pelo público, quanto pela mídia, perante aos posicionamentos e ações impulsivas. Se o tema de documentários é sempre explorar um pouco mais da história ou do ser em questão, aqui tudo feito nessa via é digno de aplausos.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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