Crítica – Sexify (1ª Temporada)

Todo mundo pensa em sexo. O tempo todo. Essa é uma das máximas que faz parte da humanidade, especialmente porque temos contato com a ideia da copulação desde cedo. De início, quando mais novos, aprendemos primeiramente sobre o lado reprodutivo que transar tem. Logo em seguida, ao desenvolvermos desejos e também o contato com o corpo, o prazer fica em evidência. Contudo, durante diversos anos, e ainda hoje em algumas sociedades, o prazer feminino foi algo deixado muito de lado. Era visto como um “tabu” e considerado também uma forma de pecado da mulher, por exemplo, se masturbar. Desse jeito, com os problemas sociais, como é possível gerar um entendimento nela mesmo com o corpo e no parceiro ou parceira com o corpo dela?

Observando essas questões e o interesse completo nos jovens pelo sexo, Natalia (Aleksandra Skraba) e Paulina (Maria Sobocinska), juntas da vizinha de quarto na faculdade Monika (Sandra Drzymalska), resolvem criar um aplicativo que aborda o prazer pelo ponto de vista das mulheres. Assim se inicia a trama da primeira temporada de  Sexify, que traduz todo esse contexto da líbido adolescente pela necessidade de transar na ideia científica de Natalia. Ao mesmo tempo que vamos observando o desenvolvimento do projeto, entramos em contato também com o amadurecimento das três garotas.

A direção e criação de Piotr Domalewski e Kalina Alabrudzinska buscam sempre olhar para a situação de forma mais cômica. Apesar disso, dentro desse lado mais leve de retratar a temática – e sempre com o uso e abuso das sequências mais “pornográficas”, por assim dizer – é que a produção entra em pontos para discutir sobre cada uma das protagonistas. Natalia tem o seu lado mais relacionado com a ciência acima de tudo. O drama perante sua mãe, que a diz sempre para não se envolver com garotos, se transforma em uma característica relevante para a descoberta do próprio prazer; Paulina vira noiva só que não sente nenhuma felicidade durante as transas com seu futuro marido. Por isso, também vive uma descoberta sobre esse novo mundo, ao mesmo tempo que convive com a culpa cristã de pensar tanto no mesmo; Por fim, Monika é mais aberta sobre o erotismo, no entanto está sempre cheio de problemas sentimentais de um relacionamento passado e também com o pai.

Tais questões se demonstram importantes para traduzir um elemento mais adolescente que a Sexify e os oito episódios possuem. Em vez de uma verdadeira busca por exacerbar essas complexas relações sociais, que modificam a vida de diversas meninas pelo globo, é mais interessante para o universo da produção tratar esses elementos como uma intensa descoberta. É como se existisse quase um lado psicológico nisso, em que um entendimento sobre a copulação fosse também um domínio sobre o próprio “eu”.

Apesar disso, os capítulos claramente nunca parecem ter uma vontade exposta de desenvolver certos pontos que aparecem. Por exemplo, um elemento que tem um ponto de partida é uma possível bissexualidade de Paulina. Tal questão acaba sendo levantado, mas nunca realmente é desenvolvido para um lado maior. É como se, em diversos instantes, a série realmente queresse se mostrar preocupada com muitas coisas e sobre diversas condições dramáticas das suas personagens, porém que sempre ficam de segundo lado para deixar tudo mais “leve”. Não haveria problema nisso se tudo fosse assumidamente mais brincalhão dentro da narrativa. Todavia, certos pontos aparecem de um jeito mais conflituoso e nunca são esclarecidos.

A primeira temporada de Sexify se atrapalha um pouco quando quer ser ser mais séria, contudo trabalha de forma curiosa alguns elementos sobre amadurecimento (em uma espécie de comig of age pesado). Desse jeito, os episódios sabem transitar bem para um lado mais engraçado, sem ter receio de ser realmente uma produção mais jovem. Constantes cenas de sexo, por exemplo, servem sempre para mostrar esse lado “explícito” da geração retratada. Quando consegue atingir esses pontos sem ter muito receio de desenvolvimentos, se transforma em um seriado curioso e que pode trazer bons elementos para o futuro.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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