Crítica – Sirens

Documentários que vão atrás de explorar o histórico de bandas normalmente caem em um senso comum de tentar entender a dinâmica sempre através das opiniões dos próprios membros. Assim, ficam de fora, em muitos casos, as histórias mais curiosas e interessantes a serem abordadas, além de uma compreensão mais detalhada. No entanto, quando abordados de uma forma mais correta, é possível entender de forma quase perfeita quem são essas pessoas. Afinal, essa é o grande objetivo quando filmes desses personagens são tratados dessa maneira.

Sirens faz uma espécie de mistura das duas pegadas. Se por um lado caminha dentro do campo da dinâmica das integrantes da banda de trash metal Slave to Sirens, por outro tenta compreender o que faz aquele grupo ser aquilo mesmo. Para isso, vai atrás da rotina de duas integrantes: Lilas Mayassi and Shery Bechara. Mais do que simplesmente “porta-vozes”, as duas se transformam em catalisadoras do que verdadeiramente as uniu pela música. Assim, o longa tenta explorar as diversas facetas e entendimentos de mundo de ambas, que, em meio ao caos do crescimento e com uma carreira musical, tentam se localizar no mundo.

A direção de Rita Baghdadi traz uma visão sempre complexa do desenvolvimento das meninas. É interessante como até a forma do documentário abordar cada cena muda, conforme for a atitude nelas em cada meio. Por exemplo, em cima dos palcos, a cineasta gera um olhar de admiração, as deixando sempre em contra-plongée, como se fossem bem maiores e experientes do que realmente são. Já em outro momento, quando uma das meninas está em uma sala de aula falando sobre o trabalho, há um olhar mais fraterno, esperançoso e quase dramático, de certo jeito, pela forma como a própria personagem lida com esse momento.

De toda forma, o mais importante em Sirens é tentar ir atrás de uma essência dessas mulheres para fazer parte de um grupo de um estilo musical considerado agressivo e, por muitas vezes, “masculino”. Não é um tema que é diretamente abordado, mas aparece nas imagens da platéia e até mesmo do fã que vai falar com elas. Em cima do palco elas aparecem em uma posição única de poder, que não pode ser retirada. O grande problema é que o filme adentra em um cenário político sobre o Líbano, algo que faz parte da vida das duas, e tentar gerar uma conexão, que nunca fica verdadeiramente clara.

Fica claro como o longa está atrás de querer buscar algo único na maneira como elas irão se portar politicamente. Todavia, se poderia transformar-se em relevante, fica apenas mais bobo conforme tudo é apresentado. Em certo sentido, é quase como se a produção quisesse verdadeiramente olhar todos os âmbitos, porém passando de um ponto da interlocução daquilo com a vida musical. Nesse sentido, ele próprio se questiona se está fazendo algo sobre duas meninas que, por acaso, tocam em uma banda, ou se é do Slave to Sirens por si só, em que essas duas jovens participam.

Mesmo com uma dinâmica meio perdida da metade até o fim, é curiosa a forma como Sirens se porta em um olhar menos participativo. Rita Baghdadi é apenas observadora dessas circunstâncias e do que vai formalizar a história de duas meninas que buscam em apenas tocar suas músicas. Por isso, as próprias vidas pessoais ressoam até como algo menor e as conquistas como mais relevantes. Só que, no fim das contas, a ideia é justamente entender como a interlocução entre ambas. Como mostra a sequência final, elas estão atrás apenas de encontrar uma luz no fim do túnel.

Texto para nossa cobertura do Festival de Sundance 2022

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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