Crítica – Coronation

Coronavírus. A palavra que verdadeiramente ganhou atenção do mundo no ano de 2020, apesar de já ser uma espécie de vírus conhecida que – até onde se sabia – não atingia humanos. No entanto, tudo mudou, e o mundo virou de cabeça para baixo, tendo de mudar seus costumes, comportamentos e até a liberdade de circulação de um dia para o outro. O início da disseminação da agora chamada covid-19 foi na China, mais especificamente na cidade de Wuhan. Após o início do grande surto, em janeiro, o cineasta Ai Weiwei resolve ir até àquela pequena cidade, a qual pouco tinha de relevância para o mundo inteiro, entender como tudo já havia mudado. E assim surgiu Coronation.

A ideia documental de Weiwei é bastante simples: ser um personagem nesse mundo novo, enquanto filmava tudo que acontecia. É interessante o processo dele se colocar como parte dessa trajetória, especialmente pelo fato da forma que o vírus afetou até sua produção. Ele tinha dificuldades de filmar alguns locais, por exemplo, além de mudar certos planos. A mesma coisa acontece ao sentir saudades da família, e perceber que faz parte desse universo triste que se forma. Desse jeito, é possível perceber que o longa acaba sendo também uma espécie de testemunho para o futuro. Como se fosse uma carta sobre tudo que aconteceu e da forma que isso ocorreu.

Porém, não existe uma concepção narrativa linear e clara dentro do filme, que tem quase 2 horas de duração. É uma espécie de colagem, recortes de situações que o diretor vivencia e resolve filmar. Os destaques principais para seu olhar são dois: a maneira como as pessoas estão lidando com isso e o tratamento do Partido Comunista Chinês para o coronavírus. No primeiro ponto, é bastante sob o aspecto humano. Assim, Weiwei vai conversar com diversas pessoas, além de mostrar médicos dentro de hospitais, e o desespero do acúmulo de mortes constantes. Do mesmo jeito, também retoma a diversas formas de trabalho que ganham força no país, a principal delas dos entregadores. A conversa com um deles, a qual diz ter sido a forma de lucrar com a pandemia, parece bastante reveladora da maneira que tudo acontece.

Dentro do sentido mais político da obra, o cineasta não chega a deixar visões claras, porém sempre coloca o conceito inteiro da relevância do governo de controle para conseguir dominar a covid-19 rapidamente. Apesar disso, há também um certo aspecto quase irônico desse olhar, especialmente em uma cena que profissionais de saúde juram lealdade ao partido. Em um outro momento, ele tem uma longa conversa com uma idosa, que parece até quase alheia dessa realidade, especialmente na forma de lidar com esse controle central.

Tomando o máximo de cuidado possível com sua maneira de lidar com o momento, é interessante o trabalho feito por Ai Weiwei em Coronation. De certa forma, jornalisticamente, é curioso, ampliativo, dando possibilidades e margens para observar esse mundo que iria modificar por completo a partir daquele local. A homenagem, no fim, aos mortos pela doença, também se reforça em todo o trabalho da produção, ao tentar compreender o que está acontecendo com o mundo. Apesar disso, o diretor senta em certas obviedades narrativas, especialmente ao olhar para esses profissionais que estão trabalhando em um momento de isolamento. Parece tudo feito para ser rápido demais, sem um viés de entender esse problema. Nesse sentido, vemos um filme que adiciona uma compreensão muito mais de sensibilidade, do que propriamente de conhecimento. Assim, nos vemos ainda mais emergidos nesse caos surgido naquela pequena cidade.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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