Crítica – Tales From the Loop (1ª Temporada)

Ao admirar as obras de Simon Stålenhag, é fácil perceber porque elas foram escolhidas como base para a série Tales From the Loop, da Prime Video. Suas pinturas, que combinam espaços vastos com artefatos tecnológicos e que buscam sempre colocar as figuras humanas em posição de pequenez, criando um palpável senso de escala, além de evocar um mundo maior. Os livros do artista sueco até contam com pequenas histórias relacionadas às imagens, mas o foco é evidentemente estético.

Partindo dessas imagens, o criador da série, Nathaniel Halpern, construiu uma produção com inspiração bem evidente em outras grandes séries de formato antológico, como Além da Imaginação, com direito a introdução, no primeiro episódio, por uma espécie de apresentador daquele mundo, Russ (Jonathan Pryce), e também é difícil não lembrar de Black Mirror, especialmente pela sua relação com tecnologia.

Apesar de seu formato, em que cada episódio é uma história fechada, Tales From the Loop se passa em um mesmo local, com personagens recorrentes. A cidade de Mercer, em Ohio, é o cenário onde as tramas acontencem, geralmente envolvendo os habitantes do município se deparando com alguma tecnologia misteriosa, que pode ou não ter relação com o Loop, laboratório subterrâneo da cidade onde os pesquisadores buscam tornar o “impossível, possível”. Nos oito episódios que compõem a série, assuntos como viagem no tempo, universos paralelos, robótica e mais, são usados nas histórias.

Apesar da arte de Stålenhag ter certo foco na escala e de uma certa incongruência entre os objetos altamente tecnológicos com a natureza quase idílica, a visão audiovisual aposta mais no aspecto humano das coisas, de como as pessoas se relacionam com esses eventos/objetos incríveis e com as suas consequências. Assim, do pintor sueco, só sobre mesmo as ideias dos objetos e os visuais, tematicamente, o foco é outro.

Mas, ao invés de aproveitar o formato de antologia e apostar em uma variedade de histórias e em maneiras de contá-las, Tales From the Loop prefere adotar um ritmo vagaroso para todas suas narrativas. Todos os episódios buscam criar uma sensação de contemplação, colocando aqui e ali planos de silêncio, focados no ambiente, que são propícios para pinturas, e até para obras audiovisuais, mas em um seriado com tramas diversas, um pouco de variedade no tom cairia muito bem. Não é a toa que um dos melhores capítulos, o quarto, que aborda luto, é o que melhor se adequa a esse ritmo; e o outro, o sétimo, é o que adota uma atmosfera mais própria, voltado para o terror, durante boa parte de sua duração.

Não ajuda muito também a similaridade entre as histórias. Quase todas seguem o mesmo molde, onde uma pessoa possui algum problema/desejo, e encontra/adquire artefato que pode suprir tal anseio, o que funciona por um tempo, até que – surpresa! – tudo dá errado de alguma maneira. Assim, os envolvidos aprendem alguma lição e tudo volta ao “normal”, ou próximo disso. Dos oito, pelo menos quatro envolvem essa estrutura, e outros dois também contam com a mesma ideia de pessoas encontrando versões de si mesma, com somente o modo que isso ocorre sendo mudado. Enquanto um é viagem no tempo, outro possui dimensões paralelas.

Tales From the Loop não se aproveita também do fato de se passar tudo em um mesmo cenário, e pouco se aprofunda no próprio universo. Personagens passam por eventos incríveis para, ao voltarem em um episódio futuro, isso pouco afetar sua caracterização. Somente uma das narrativas possui um certo desenvolvimento dramático por mais de um episódio, mas esse modo vago de tratar os personagens acaba contribuindo para um certo desinteresse. Assim, Tales From the Loop não consegue ser muito mais do que um Black Mirror um pouco mais bonzinho, e não tão cínico. Ao não abraçar totalmente o formato antológico, nem uma narrativa mais conectada, não há muito o que se apegar dramaticamente, salvo raras exceções onde a série investe de fato em uma coisa específica.

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