Crítica – The Climb

Michael Angelo Covino deixa as portas bem claramente abertas sobre como será The Climb logo nos primeiros segundos. Os diálogos longos entre Mike (também Michael Angelo) e Kyle (Kyle Marvin), ambos amigos na vida real, causa uma mistura de comicidade e efeito dramático. Isso porque, na véspera de casamento do segundo, o primeiro revela que já teve um caso sexual com sua noiva em um passado relativamente próximo. Os dois passam de uma intriga, até uma quase briga, chegando em uma outra relação de brigas. Os conflitos – sejam eles físicos ou não – são parte da vida desses personagens.

Essa correlação de forças dos dois amigos é sempre salientada em diversos pontos da vida de ambos. É complexo traçar qualquer relato de uma verdadeira história aqui, visto que a possibilidade de revelar certos desdobramentos da trama acaba sendo quase necessária. O importante, acima de tudo, é que estamos acompanhamos um relato na busca extrema do real. Não há medo algum em destacar isso pelos planos sequências sempre trazendo uma ambivalência cênica e possibilidades a cada novo momento.

É nessa forma que o roteiro também dos dois atores alinha uma sequência quase infinita de diálogos, remetendo ao trabalho, por exemplo, de Richard Linklater. Nada é superficial e acompanhamos protagonistas totalmente mascarados em diversas situações menores que os definem nas características mais detalhadas. Um traço interessante da direção de Michael Angelo é em como ele busca trabalhar uma fundamentação dramática em cada um de seus atos. Existe uma falta de um maior desenvolvimento dos próprios personagens em si – especialmente de um detalhamento passado pouco explorado -, contudo o realismo de cada situação traz um peso ainda mais relevante para essas sequências. A necessidade de expor tudo passa por um caminho de buscar um olhar meio vouyer dessas vidas. O sentimento de vergonha alheia é frequente.

O maior problema da obra está em como trazer os elementos do drama e da comédia. Ele acaba sempre tendendo para algum lado quando abre uma nova cena, misturando de um jeito meio corroido as duas situações. Enquanto a primeira, por exemplo, esboça toda uma relação divertida sobre esses elementos, em uma comédia quase de erros, a segunda tenta brincar com uma melancolia engraçada que não funciona a nada. Parece uma tentativa do próprio longa em buscar de rir de si mesmo, algo bem relacionado a um cinema independente americano dos últimos anos, especialmente a partir de 2014.

The Climb acaba sendo um filme que consegue trabalhar melhor as possibilidades de cada cena, especialmente pela visão realista daquela circunstância, do que propriamente realizar esse trabalho. Isso ainda reverba em uma proximidade do seu ato final, aonde a comédia quase toma partido da produção para causar um caráter irreal, fugindo de uma situação aberta anteriormente. De uma forma geral, é um longa proposto – e realizado – bem maior na sua busca menos formal, aonde consegue deixar os elementos de tela totalmente livres. As diversas tentativas de seguir um roteiro e algo pré-programado fazem perder uma força interna na conjuntura dos dois personagens. Esses, inteiramente mais divertidos do que o longa em si.

Esse texto faz parte da nossa cobertura do Festival do Rio 2019

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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