Crítica – Velma (Primeira Temporada)

Desbocada, sem medo de falar o que pensa, contra o machismo, feminista, antirracista. Essas são algumas das características que compõem a personagem Velma, protagonista da série de próprio nome lançada pela HBO Max. Como é possível perceber, a animação tem uma clara intenção dentro do enredo: trazer a inteligente investigador do grupo comandado por Scoby-doo para um universo contemporâneo. Como se ela tivesse sido criada agora. Junto disso, sobrepõe a história ao retomar o início do grupo, com Velma contando, por ela mesma, como entrou na “turma” e como os quatro se tornaram amigos.

Só que fica claro na versão do criador  que ele não tem muito o que contar além disso. Fica claro também que o roteirista queria criar uma animação à lá Adult Swin de personagens visualmente conhecidos do público infanto juvenil. É quase em um conceito de transformar essas narrativas em mais adultas. De início, não há problema nenhum nessa ideia. O ponto chave é como ela soa apenas isso: uma ideia. Falta qualquer traço de desenvolvimento aqui, assim como também falta uma verdadeira vontade de seguir com a história base do enredo, que é uma investigação relacionada a família da protagonista. Soa como se o seriado em seus 10 episódios estivesse com mais vontade de chamar a atenção do que necessariamente em criar alguma coisa.

Velma parece uma animação fadada a morrer tanto quanto foi iniciada. As tentativas de gerar alguns debates de um jeito mais engraçadinho se tornam apenas gags em uma trama maior que vai do nada para o lugar nenhum. A encenação até tem um olhar bem próprio, já que transporta um certo espírito da gravação e de como era exibida a série original de Scooby-doo. Só que, novamente, fica apenas nisso. Traz uma sensação que o que está sendo contado em tela é menor do que propriamente qualquer piada que fique travada nos mesmos assuntos.

Em alguns instantes, o seriado soa quase como qualquer comédia “masculina”, por assim dizer, que repete a mesma temática sobre maconha, sexo e mulheres (caso de É o Fim, de 2013, por exemplo). Porém, obviamente, busca ser um contraponto – e, por isso, se torna tão vazio quanto. E não digo vazio em temas, já que parece claro como a produção até tem coisas a abordar, como a sexualidade da personagem principal, o domínio masculino no ambiente escolar e a inviabilização de pessoas negras. Mas não passam apenas de coisas que estão ar e totalmente sem encaixe no que se está querendo contar.

Travada em uma mesma nota, falta para Velma alguma coisa em que se escorar. No fim, soa apenas como uma série feita para serem criadas diversas tirinhas com suas piadas, e que realmente não quer ser mais do que isso. É quase uma tática comercial, em certo sentido. O problema é que aparenta ser inteiramente perdida, sem uma noção de qual caminho andar e com que pernas também. Sendo um grande remendo, a animação ainda consegue conjecturar um problema maior para si: falta algo para contar. Assim, sem nada, restam apenas as até boas piadas, em um grande palco sem risos, já que falta luz, plateia e cenário para se assistir.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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