Resenha – This is Why (Paramore)

Seis anos. Esse foi o tempo que o agora trio formado por Hayley WilliamsTaylor York e Zac Farro demoraram para lançar um disco novo. Foi o maior demora do Paramore para a publicação de um trabalho novo desde o início da banda, que já passou por várias fases e formações. After Laughter, de 2017, talvez seja uma boa explicação disso, já que era o que mais destoava de toda a discografia até ali. Menos soturno e mais tragicômico e sob elementos de new wave e post-punk, parecia um outro grupo, extremamente diferente do que os fãs haviam visto até ali. All We Know is Falling, Riot! e Brand New Eyes seguiam toadas similares e eram interessantes entre si, de toda maneira. Paramore, de 2013, indicava um caminho novo, que se aprofundou no álbum seguinte.

Enfim, esses seis anos pareceram consolidar ainda algo novo. Literalmente, um novo Paramore. This is Why chega neste início de 2023 com uma nova pegada, que parece conjecturar tudo que eles já fizeram anteriormente. Porém, sob forte influência do que Hayley fez em sua carreira solo e nos dois discos que lançou durante a pandemia de Covid-19: Petals for ArmorFlowers for Vases / Descansos. Claramente sob influência da mistura do pop com o post-punk, algo que o Talking Heads fez de forma muito forte durante toda a carreira – e que David Byrne tem produzido na carreira solo. Mas fica claro como a artista (e frontman do grupo que surgiu do pop punk) não queria trazer isso para esse novo trabalho. Ela buscava consolidar essas claras influências com o estilo de um grande indie pop-rock de After. Assim, This is Why surge.

Essa exemplificação fica bem clara na abertura, a faixa título. Trazendo mais elementos do álbum anterior, especialmente na guitarra dançante, porém sob um forte olhar do new wave e de uma música experimental (a abertura completamente confusa dá esse tom). Além disso, é um reforço de um letra que vai ecoar durante boa parte das canções: um certo descolamento jovem de mundo. Enquanto em Riot!, o trabalho de mais sucesso comercial deles, boa parte das faixas rodeavam um imaginário adolescente, sobre amores, traições, cansaço, aqui parece um amadurecimento. Agora, uma certa melancolia sob o tempo perdido toma conta. Os relacionamentos parecem importar menos, já que não há mais tempo para viver, ser jovem. A pandemia parece um reflexo dentro disso.

“Running Out of Time”, “Figure 8”, “C’est Comme Ça” e”You First” reforçam esses elementos. Trazem uma pegada dançante, mas com letras simplesmente de desilusão – e, mais uma vez, com uma clara referência de post-punk e new wave, especialmente as duas últimas. Como deixar para trás a primeira frase dita após o refrão de “C’est”: “Em apenas um ano, eu envelheci 100”. Essa desilusão sobre tudo também aparece de forma mais política em “The News”, abordando a relação com as notícias e a agilidade do tempo, em talvez uma das músicas mais pesadas da história do Paramore (o refrão rememora coisas como “Ignorance”, por exemplo).

Fica claro como parece que This is Why é um disco reflexivo sobre a própria vida e idade dos integrantes. Apesar das críticas e levantamentos, soa quase como uma obra passiva sobre um mundo atual, perpassando em várias temáticas. É um amadurecimento sobre compreender o crescimento e sendo menos divertido consigo mesmo e mais sarcástico. “Liar”, “Big Man, Little Dignity” e “Crave” trazem esse aspecto de forma bem clara. “Você diz: ‘viva o presente’ e eu já estou sonhando como isso começa; E tentando aproveitar o momento, mas sei que esse sentimento vai chegar ao fim”, diz a letra da última citada.

Em um certo olhar, é como se o Paramore mostrasse que não é mais um grupo que reflete sobre uma adolescência passada ou busca um olhar mais romantizado para tudo. É uma banda que assume, de forma óbvia, seu papel como pensadores de um grupo de pessoas que cresceu junto com eles. Esse grupo que agora precisa trabalhar, se dedicar a outras coisas e nem tem tempo para o amor. Os mesmos que viveram durante a pandemia e parecem ter ficado isolados do mundo, nem sabem mais as tendências. Enquanto Hayley, no auge do seu sucesso, fez parcerias até de rap, agora ela soa como alguém que está observando uma música do passado. Mas, como toda a pitada de genialidade da banda, assumindo um papel contemporâneo. E This is Why é uma visão direta a isso. Ao Paramore se mostrar como um trio que sabe ecoar nas diferentes gerações.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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