Filme de found footage brasileiro fala sobre primos desaparecidos
Quem for assistir Os Jovens Baumann sem saber muito sobre, pode achar que está vendo um documentário. Ou até uma homenagem para esses jovens desaparecidos. A ideia era realmente essa e, para os desavisados, a sensação de frustração ou intensa dúvida pode gerar debates e maiores reflexões. “As pessoas ficam sempre curiosas de saber o quanto é verdade e o quanto não é. Tem gente que realmente acha que é verdade, perguntando até o que aconteceu”, conta, entre risadas, a diretora Bruna Carvalho de Almeida. “Elas ficam assim: ‘eu fui enganado, que legal’. As pessoas ficam até felizes em saber que foram enganadas”.
O filme conta a história de sete primos da rica família Baumann, que acabaram desaparecendo em 1992. Bruna teve a ideia de gravar o longa usando câmeras VHS e foi em frente com ela. Uma tendência utilizada no gênero found footage, o conceito de gravar com esse tipo de câmera acaba por remeter muito ao gênero de terror/horror. Todavia, o telespectador que espera por isso aqui pode ser enganado. Ainda que existam alguns elementos presentes – em uma cena específica mais detalhadamente -, o longa não se baseia nisso.
“Durante a feitura a gente percebeu duas coisas do filme. Primeira que esse found footage, ele é muito convidativo do suspense, talvez pelas referências a Bruxa de Blair, Atividade Paranormal, onde você encontra as filmagens de arquivo e o material existente é muito estranho. Tinha essa sugestão muito grande do suspense como forma de abordar o material”, continua Bruna. “O outro é que o material de arquivo, ele é um formato né? Um formato que você encontra e dá uma utilidade para ele, que funciona como discurso de quem está fazendo. Muitas vezes o arquivo acaba não sendo o que você quer, né? Você se debruça sobre ele e lá tenta encontrar as resposta para o que você tá fazendo”.
Dentro do filme, as perguntas acabam sendo as mais diversas e as respostas nunca ficam claras. Se não sabemos – no “mundo real” – o que realmente aconteceu com eles, então ali dentro fica ainda mais impossível. Não há nenhuma resposta clara dentro da trama para encaminhar a algum caminho. Teriam eles feito alguma coisa? Impossível dizer ou até saber? O lado da gravação realmente ajuda mais a gerar toda essa imersão, porém o lado estranho acaba permanecendo dentro da audiência.
Toda essa questão de sugestão entre a verdade e a mentira pode causar uma dúvida. Essa falta de resolução ainda mais. Não que seja um problema feito dentro do longa. A opção estética de Bruna gera um lado bem próprio de sua narrativa para não ter medo em realizar um trabalho diferenciado.
“Eu nunca quis que o filme tivesse uma resolução. A gente chegou até gravar algumas [cenas] que eram mais conclusivas, mas eu nunca quis de verdade que o filme tivesse um fim. Essa questão conclusiva eu acho que tem bastante a ver com o fato de essas conclusões possíveis estarem muito conectadas e pensadas pelo telespectador, né?”, diz a cineasta. “Eu tenho muito interesse em um tipo de cinema onde o telespectador consegue preencher as lacunas que o filme apresenta pra ele. Acho que o filme partiu muito dessa inconclusão (sic) mesmo, né? De partir dessa relação e também até de uma certa cumplicidade, de nós, que estamos fazendo o filme, e o espectador, para esse conseguir preencher todos os vazios. Vazios construídos, né? São buracos que a gente pensou que poderia existir uma reflexão possível no discurso do filme”.