Friends, 25 anos depois
Em 1994, Friends estreava no dia 22 de setembro. Talvez poucos estariam realmente preparados na febre que se transformaria a série. Pouquíssimos mesmo, inclusive os americanos, ainda apaixonados por Seinfeld. Essa, que estreou em 1989, embora tenha demorado um tempo a fazer seu grande sucesso, contou com o episódio final possivelmente mais visto na história dos Estados Unidos. Marcos realmente transformam a história, especialmente quando falamos de cultura pop e cultura de uma forma geral. Após Friends, vieram The Office, How I Met Your Mother e, mais recentemente, Brooklyn 99. Todas, de um jeito ou de outro, revolucionam o mundo da comédia para a TV, dos anos 90 até agora. Isso é indiscutível.
Pois bem, 25 anos após chegar às telas da TV pelo mundo, resolvi analisar Friends sobre uma ótica atual. Revi o primeiro episódio do seriado, intitulado não de piloto – como usualmente é chamado esse primeiro capítulo -, mas sim “The One Where Monica Gets a Roommate”. Pois bem, como ele é introdutório, apenas com o objetivo de apresentar as situações que irão se desenrolar durante essa temporada, além de trazer quem são cada um, os minutos cumprem bem seu papel. David Crane e Marta Kauffman, os criadores, sabem realizar uma introdução chamativa, deixando diversas pontas soltas que irão merecer atenção. Dentre elas estão o relacionamento de Ross e Rachel, o trabalho de ator de Joey, os problemas de relacionamento de Monica, entre outros.
Pois bem, acho que nesse ponto devo admitir o fato de eu nunca ter sido um fã incondicional de Friends. Além do mais, demorei bastante para ver a série por completo, fazendo isso apenas em 2014 – o mesmo ano que o Senta Aí foi criado. Apesar de ser possível perceber e até congratular a obra pelo seu papel de relevância dentro do mercado de entretenimento, também é possível perceber como a produção é agarrada a personalidade dos personagens principais. E como a própria série em si é totalmente baseada na personalidade de cada um e de trazer um certo favoritismo para o público. Digo isso com o maior entendimento que realmente acho cansativo o fator de repetição presente aqui. As mesmas tramas, os mesmos relacionamentos, as mesmas situações. Poucos arcos realmente acontecem, especialmente depois de algumas temporadas.
Bom, se você é um fã assíduo talvez nesse ponto você já esteja totalmente revoltado(a) comigo. Eu entendo, realmente sei como é amar um seriado, porém não disse em nenhum instante que desgosto dele. Inclusive, acho ele realmente engraçado e marcante nos mais diversos momentos, principalmente no desenvolvimento da relação de Monica e Chandler e todo esse mistério louco ao redor de Phoebe. Talvez sejam esses os elementos, para mim, mais cômicos e realmente melhor desenvolvidos. Aonde o potencial é apresentado mais claramente.
Por fim, é impossível rememorar esses 25 anos de Friends sem falar de uma situação mais polêmica. Sim, estou realmente querendo entrar aqui em um território mais complexo, porém igualmente necessário. Acredito que até boa parte dos atores julgue realmente isso ser necessário de rever, apesar de nunca terem abordado de frente esse assunto. Estou falando sobre a homofobia e machismo bastante presentes dentro da obra. O primeiro em um aspecto mais claro sobre o pai de Chandler (fato esse mais para as últimas temporadas) e o relacionamento lésbico da ex-esposa de Ross (uma das situações mais primordiais da produção). Sobre o segundo, aí os exemplos são mais diversos, mas vão bastante sobre o controle das personagens femininas, sobre Ross, entre outras situações.
Em relação as duas é preciso – claramente – entender um certo contexto social onde isso era apresentado de forma muito mais presente. Não é uma desculpa, mas uma entendimento. Para alguns, totalmente inaceitável, o que é realmente compreensível. Ainda sob este aspecto, é até impressionante encarar de frente um tema tão polêmico nos anos 90, no caso, os grupos LGBT, em uma série de enorme sucesso. É realmente impressionante, apesar de ter havido um tratamento deveras complicado. Impossível esquecer, visto que está presente até na Netflix e no entendimento de mundo das mais diversas pessoas hoje, contudo é preciso abrir essas duas visões.
Friends completa aniversário com esses questionamentos em curso. Com o questionamento também de onde estará daqui a alguns anos, com a criação do serviço de streaming próprio da Warner e toda essa disputa com a Netflix. Essa disputa, por sinal, já está sendo alastrada a algum tempo, algo que não parece ter um fim tão próximo. Mesmo com essas questões mais burocráticas, é imprescindível rememorar uma série com esse enorme sucesso até hoje. Para os que gostam e os que gostam, é impossível esquecer de “I’ll be there for you”.