Jogador Número 1 e o jeito Spielberg de ser

O som de “Jump”, da banda de rock Van Halen, logo nos primeiros segundos de projeção já dão o ar da sintonia do que está por vir. Sim, a sintonia de que Steven Spielberg – o pai dos blockbusters – está de volta para seu lado mais divertido e sem pretensões gigantescas. Isso pode significar um início de uma nova geração de cineastas, mas também o fim de um ciclo que inciou-se em “Tubarão”. Bem, só o futuro irá dizer, mas o certo é que “Jogador Número 1” mostra que, quando o diretor quer, pode repensar o entretenimento como um todo. E é isso que ele faz.

O filme começa sua história no futuro distópico de 2044, aonde Wade Watts, assim como o resto da humanidade, prefere mais a realidade do jogo OASIS do que a própria vida real. Quando o criador desse game, o excêntrico James Halliday, morre, os jogadores devem descobrir três chaves de um quebra-cabeça gigantesco – que ninguém parece perto de chegar – afim de conquistar sua fortuna inestimável. Para vencer, Watts deverá contar com a ajuda de seus amigos e batalhar contra corporações que buscam a riqueza.

O grande chamariz do público desse longa é, sem sombra de dúvidas, seu fator nostalgia e as diversas referências a cultura pop, algo que já aparecia nos trailers oficiais, pôsteres e também no livro de origem dessa obra. Esse fator nostálgico é o ponto base para a trama e todo o desenvolvimento dela, mas é trabalhada de uma forma diferenciada. O por que disso? Devido ao fato de que essas referências ou, como até o mesmo a própria autorreferência do filme – os easters eggs -, são colocados de uma forma natural e importantes para o desenrolar do universo, já que o criador era um fanático pela cultura popular. Sendo assim, isso acaba por se tornar um atrativo para os telespectadores, que buscam na tela descobrir cada um dos personagens os frases que remetem a outras obras clássicas.

Além disso, a questão da volta de Spielberg ao gênero de aventura/ficção-científica/ação também eleva o interesse para assistir. Essa é a obra mais divertida do diretor desde “Jurassic Park”, de 1993. Claro que nesse meio pode-se contar também “As Aventuras de Tintim”, mas que não atingem o nível máximo de entretenimento da películas dos dinossauros. Seu comando para com a trama é absurdo e possui um nível de inventividade e jovialidade impressionantes, algo bem distante para quem realizou “The Post: Guerra Secreta” recentemente. O controle da condução da trama se dá de uma maneira extremamente fluída e as sequências de ação acabam se tornando um grande destaque aqui – mesmo que a computação gráfica acabe atrapalhando um pouco. A cena que mais pode ser exemplar aqui é a sequência de uma corrida, que acaba por ser a melhor na projeção inteira.

Nas interpretações, a dupla principal feita por Tye Sheridan e Olivia Cooke segura muito bem toda a linha narrativa, algo feito principalmente pela segunda citada. Nos momentos fora da realidade virtual, eles conseguem compor excelentes camadas e geram uma naturalidade importantes no contexto. Já dentro do mundo, seus papéis com as vozes encaixam perfeitamente aonde a história chama. Além deles, é impossível não destacar o grande papel de Mark Rylance como Halliday, entregando um dos personagens mais interessantes e centrais para toda a trama.

Em relação ao roteiro, aqui reside o grande ponto fraco de tudo. Apesar de bem inventivo e com um bom desenvolvimento de personagens, o ato final acaba por ser até um pouco enfadonho e cansativo, além de gerar uma cena final que não se condiz com tudo que foi apresentado e totalmente clichê. A questão de todo o mundo fora da OASIS não funcionar tão bem acaba por atrapalhar a conexão emocional com os personagens – que se torna o mais relevante para o público temer por eles. Dentro disso, o grande vilão da história (feito de maneira bem divertida por Ben Mendelsohn) acaba por ter pouca profundidade e ser uma ameaça mais física do que psicológica. Apesar disso tudo, as motivações de cada um acabam por ser bem claras e coesas, o que gera uma fácil empatia com os protagonistas.

“Jogador Número 1” é a volta do grande diretor Steven Spielberg para a diversão absoluta, sem se importar muito com todos os comentários que poderá levar por isso. Apesar de certos problemas, isso pouco atrapalha o entretenimento causado aqui. Que ele não esqueça isso nunca mais, é o que os cinéfilos e os admiradores da cultura pop imploram.

8.0
  • 8/10
    Jogador Número 1 - 8.0/10
8/10

Resumo

Apesar de alguns grandes problemas e um final fraco, a diversão e a cultura pop imperam aqui.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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