O mau exemplo de Cameron Post é um importante, mas fraco, filme

Abordar a temática da ideia estapafúrdia de uma “cura gay” é mais do que simplesmente essencial para os dias atuais, é necessária. Em um mundo onde cada vez mais o preconceito e os problemas de discriminação sexual tomam conta, as obras audiovisuais devem ser reflexo esses tempos. Dessa maneira, O Mau Exemplo de Cameron Post é, sendo assim, um reflexo do seu tempo, como toda arte.

O desenvolvimento narrativo inicia de uma forma única e lenta o suficiente para entendermos os dilemas da personagem que dá título à história.  Os efeitos comparativos de sua felicidade ao se relacionar com uma mulher, são logo em seguida refletidos em contraste com as cenas posteriores dela indo com um homem para o baile da escola, gerando um efeito até meio cômico em cima disso. A diretora Desiree Akhavan sabe trabalhar bem esse elemento ao buscar sempre o direcionamento dos olhares ao rosto de Cameron Post (Chloë Grace Moretz), abrindo os planos para demonstrar essa diferenciação com o seu entorno. Dentro disso, a escolha de, nesse momento, não buscar os personagens adultos se mostra acertada, já que estamos observando tudo sob o olhar de uma adolescente não se importando com esse universo mais velho -algo, porém, esquecido a partir do segundo ato.

Os diálogos, a priori sarcásticos, tomam caminhos um pouco mais inofensivos com o passar da trama. Todo o talento e a falta de medo ao explorar essa discussão sobre sexualidade no primeiro ato, vai se diluindo, gerando um certo problema de tom, devido ao retorno do tema nos momentos finais. Nessa questão do roteiro, é explorado de forma satisfatória, inicialmente, todo esse debate interno de entender o porquê de existir uma suposta cura para homossexuais. Os olhares confusos da protagonista, muito bem explícitos na atuação de Chloë Grace Moretz, se impõem quase como um defeito interno não muito bem entendido. Aliás, existe um pensamento até experimental em entender como os outros personagens em volta se sentem nesse meio, algo, todavia, que infla a história de diversas subtramas sem muito desenvolvimento, sendo todas renegadas ao fim, como a do Reverendo Rick (John Gallagher Jr.) e a de Erin (Emily Skeggs).

O longa perde a todo instante seus diversos pensamentos elaborados anteriormente, faltando uma certa coesão narrativa dentro da montagem de Sara Shaw. Se em algum momento é discutido como ser jovem e todos os precedentes sobre liberdade, em seguida se trabalha uma ideia do erro da juventude, tudo em cima da própria Post. O problema não seria se isso acontecesse nas diversas discussões dentro desse lado mais religioso e importante para o debate da progressão fílmica, mas isso acontece entre o trio principal, como se faltasse um certo sentido de aprendizado dos mesmos a todo instante, algo bem explicitado dentro da cena final.

A fotografia de Ashley Connor usa e abusa de cores que remetem à bandeira LGBT, quase como uma piada interna. Se os tons frios trazem esse distanciamento do diálogo em situações como essa (algo também trabalhado pelos espaços negativos de tensão entre os personagens mais velhos e mais novos), os mais quentes remetem ao sentimento mais raro naquele cenário: felicidade. Akhavan quase entra no meio da discussão imposta pelos diálogos, admitindo essa problemática da conversa, algo que Connor implementa ainda mais distanciando cada um ali. Mesmo se passando momentos atrás, é quase como se piscasse para o público perceber essa problemática nos tempos de hoje.

O Mau Exemplo de Cameron Post funciona como um irônico filme sobre o problema de intolerância contra homossexuais dentro da sociedade. O grande problema é o seu desnivelamento interno, funcionando nos momentos mais agressivos ao tratar sobre o tema, mas se tornando quase inocente quando quer entender um outro lado. Caso se mantivesse total dentro de sua proposta, o longa ficaria marcado como um grito preso na garganta da população LGBT, mas parece querer ser pouco bruto em uma tema que exige essa força.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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