Para dedicar ao seu amor: cinco músicas deliciosamente românticas que você provavelmente não conhecia

Quem disse que o calendário precisa apontar para o dia dos namorados para entrarmos no mood de uma boa canção romântica e dedicá-la ao nosso par amoroso? Afinal, por mais que isso soe piegas e um tanto clichê, na cumplicidade, todo dia é dia de celebrar a união. Portanto, escolhemos uma seleção de músicas doces, em que quase conseguimos perceber cubos de açúcar se dissolvendo em nossos ouvidos através de vozes delicadas e angelicais, ou simples rimas de amor que possuem uma musicalidade legal e soam bem quando recebidas por ouvidos e corações alheios.

  • Crown of Creation, do Ride, do álbum Carnival of Light

MOTIVO DA INCLUSÃO: Reconhecida no cenário musical pelo disco Nowhere, que é um dos álbuns mais conceituados do movimento shoegaze (que preza pelas guitarras distorcidas e barulhentas e instrumentos difusos) ao lado de Loveless do My Bloody Valentine, a banda Ride sempre teve um diferencial: o muito evidente flerte com o dream pop e com um estilo musical mais etéreo, além das letras poéticas e apaixonadas, traço já evidente no grande hit de Nowehere, Vapour Trail.

Em seu disco de 1994, o então odiado e hoje lentamente revisitado por uma nova geração, Carnival of Light (intitulado pelos próprios membros da banda como Carnival of Shite, alusão ao fracasso comercial do disco), os membros do Ride resolveram soar mais como Oasis e trabalharam em um projeto mais comercial, psicodélico e forjado do britpop, com muitas faixas docinhas, com um recheio cuidadoso, ao mesmo tempo em que apostavam em canções com mais peso de guitarra e riffs de psicodelia.

Entretanto, a faixa que talvez melhor aponte o rumo que eles gostariam de tomar seja a subestimada Crown of Creation (sim, é o mesmo nome do quarto disco do Jefferson Airplane), música super “redondinha”, onde os dotes vocais do vocalista Mark Gardener se destacam e ele soa quase como um anjo se declarando para o amor de sua vida. Faixa cristalina, lapidada especialmente para corações apaixonados.

TRECHO MELA-CUECA:

When I wake up next to you
And I breathe the morning air
I know that you’re the only one for me
Baby, nothing can compare

  • If We Can Land a Man on the Moon, Surely I Can Win Your Heart, do Beulah, do álbum When Your Heartstrings Break

MOTIVO DA INCLUSÃO: Presente na trilha sonora de um dos volumes da série em quadrinhos do Scott Pilgrim, Scott Pilgrim vs. the Universe, essa é uma das muitas faixas “bonitinhas” da banda norte-americana Beulah, conhecida como parte do coletivo de indie rock Elephant 6, que revelou ao mundo bandas como Of Montreal e o filho mais pródigo do movimento, a queridinha banda Neutral Milk Hotel. Da essência lo-fi do primeiro disco, Handsome Western States , a banda começava a redefinir sua trajetória e pavimentar o caminho para o álbum seguinte, The Coast Is Never Clear, que teve até mesmo uma música tocada na conhecida série The O.C., da Warner.

No entanto, aqui, com uma variedade impressionante de instrumentos de corda e de sopro, a banda nunca soou tão grande e ambiciosa, e If We Can Land… reflete um dos ápices dessa sonoridade mais épica, tanto em seu título (acho que nem precisaria destacar o trecho mais mela-cueca, afinal, o nome da faixa fala por si só) quanto na fusão instrumental grandiloquente. Sem dúvidas, se você tivesse conhecido essa música na época de seu lançamento, teria colocado na mixtape semanal que fazia para a sua namorada lá no fim dos anos 90/começo dos anos 2000.

TRECHO MELA-CUECA:

I’ll fight…
If you want me to fight
I’ll laugh..
If you want me to laugh
and cancel out the sun…
I will… I will… I will

  • Pavimento, do Lupe de Lupe, do álbum Sal Grosso

MOTIVO DA INCLUSÃO: Ok, para quem conhece bem a sonoridade dessa banda mineira, a escolha de uma faixa deles em uma seleção de “músicas românticas para dedicar ao seu amor” pode ser tachada como no mínimo peculiar, até mesmo pela grande dose de pessimismo e amargura presente na composição das letras de muitas canções do vocalista Vitor Brauer, além do tom experimental da musicalidade da banda. Porém, aqui eles soam mais acessíveis do que nunca, ainda que mantenham a particularidade de seu som em alguns momentos. Ao lado de Gaúcha, do álbum Quarup, essa é aquela canção que afirma a faceta lírica mais melosa da banda, por trás das experimentações sonoras, ainda que ambas as faixas possuam momentos em que o amor é confrontado, seja pela distância física (caso de Gaúcha) ou pela auto-estima baixa do eu-lírico (caso de Pavimento, no trecho Pois quem cola comigo cola comigo já nasceu fadado a não ganhar). Ainda assim, são músicas bastante “dedicáveis” ao seu xodó amoroso.

TRECHO MELA-CUECA: 

Mas só Deus sabe o quanto eu te amo e o quanto eu amo os nossos segredos
Que guardamos no que um dia eu chamei de meu pavimento
Pois disseram que era sem vida feito um tipo de cimento
Então, meu amor por você é concreto

  • Geografia, da Sara Não Tem Nome, faixa sem álbum

MOTIVO DA INCLUSÃO: Alter-ego da cantora mineira Sara Alves, o projeto Sara Não Tem Nome tem uma musicalidade acústica e doce, marcada pela voz suave e delicada da jovem cantora. Após o lançamento do aclamado álbum Ômega III, Sara lançou a fofa canção Geografia como single sucessor ao trabalho, fazendo uma analogia entre os encontros e desencontros de um casal à trajetória de um turista se guiando por um mapa em uma cidade desconhecida. Sara também compara os climas de regiões de um mapa com a temperatura corporal de seu amor. Lindo.

TRECHO MELA-CUECA:  Todos, mas, em especial:

A nossa relação é feito geografia
Viajei em você, viajei eu sei

Nas ondas, nos campos, nas matas fechadas
Planíces, planaltos, gosto até de suas depressões

  • I’ll Make It Clear, do Teenage Fanclub, do álbum Grand Prix

Para fechar a lista, pensei em incluir uma canção exótica do primeiro álbum do Of Montreal, mas como essa é uma lista de canções sobre amor relacionáveis a qualquer pessoa, essa faixa do Teenage Fanclub, do aclamado álbum Grand Prix, me pareceu uma escolha sensata não só para o fim da seleção, mas também por conter em uma única canção todas as doses de açúcar presente nas outras.

Pra quem não conhece muito sobre a banda, o Teenage Fanclub é uma banda de power pop natural de Glasgow, Escócia, que possui uma base limitada, ainda que fiel, de seguidores e apreciadores. Sempre zelando pela manutenção daquele estilo que consagrou bandas como Beatles, Beach Boys e, principalmente, Big Star, sua maior influência, os Teenage são mesmo jovens adultos, com um coração de um adolescente espinhento de 15 anos com muito amor para dar.

I’ll Make It Clear, décima-primeira faixa do registro, traduz em palavras o que é preciso para se ter uma estável união a dois: basta algo simples, porém sem superficialidades, como diz o vocalista Norman Blake. Por experiência própria, eu digo que ele não poderia estar mais correto.

TRECHO MELA-CUECA: 

Just something simple
And unaffected
We’re getting closer
Than we expected to be
It’s me for you and you for me

Fizemos uma playlist com as músicas caso você tenha curtido (infelizmente a última ficou de fora porque não está disponível na plataforma):

Comentários

Pedro Daher

Tenho tantas ideias quanto cabelo na minha cabeça, e dizem, e eu concordo com quem diz, que gosto de transportar o que se passa em minha mente inquieta para o papel físico ou para o texto reproduzido na tela do computador. Entre minhas principais paixões estão vários elementos que compõem a cultura pop, como a música e o cinema, em suas mais diversas formas, e a escrita que traduz em sentimento esses interesses.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *