Por que a decisão de criar uma categoria para filmes populares no Oscar é tão ruim?

Na última quarta-feira, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou algumas novidades para as próximas edições do Oscar.

Conforme anunciado em primeira mão pelo The Hollywood Reporter, entre essas novidades está a decisão de criar uma categoria para Melhor Filme Popular, uma escolha um tanto quanto estranha. A decisão no início dos anos de 2010 de estender a categoria de Melhor Filme para dez possíveis concorrentes parece ter sido esquecida com o passar do tempo. Se o objetivo lá era abocanhar maiores números de audiência para o Oscar e trazer mais “filmes populares” à tona, o tiro saiu pela culatra.

Para maior compreensão, é melhor ir aos poucos. A ideia da criação dessa nova categoria é, em síntese, elitista. Qual é a necessidade de premiar especificamente longas como Pantera Negra em uma categoria separada dos chamados “filmes de arte”? Algo que já é bizarro por si só, tendo em vista que o cinema é uma arte em si próprio. Inferioridade temática, se for essa a justificativa, é totalmente relativo, visto que qualquer produção pode abordar temas políticas, contemporâneos, passados e muito mais. Considerando a questão da bilheteria, talvez isso faça algum sentido. Mas isso, talvez, não é também a sugestão de que o grande público que enche as salas não tem capacidade de acompanhar películas mais profundas? Esse é o questionamento que a Academia precisa fazer a si mesma.

É importante também chegar na discussão do que seria realmente o chamado “popular”. Popularidade sobre qualquer coisa é altamente flexível. Assim como pode-se dizer que a torcida de um time de futebol pequeno pode ser bem mais popular comparando com uma equipe menor ainda. Claro que o ponto não é chegar em um lado mais relativista, mas sim tentar entender como essa categoria é visivelmente excludente, mostrando como existe – claramente – uma diferenciação de algo maior ou menor. Uma ideia que, para a arte, é bem errada.

Surgiu, logo no dia seguinte ao anúncio, uma informação de que o canal ABC, pertencente ao grupo Disney, estaria envolvido em uma pressão sobre a presidência e a diretoria da Academia para a fundação dessa nova categoria. Para a emissora, é altamente viável essa força, já que a mesma que pode resolver passar ou não matérias sobre a premiação, assim como, simplesmente, não passá-la mais. Todavia, de acordo com a informação revelada, isso se denota importante para o canal em um objetivo da audiência poder, finalmente, crescer. Será que os ditos “filmes populares” iriam realmente atrair um público novo, buscando algo de interessante para poder ver? Não se pode deixar de lado o fato da intenção também é diminuir a duração da cerimônia para 3 horas com entrega de algumas estatuetas durante os intervalos comerciais – onde, muito provavelmente, serão os jogadas as técnicas, desvalorizando o trabalho desses profissionais e sua relevância dentro da sétima arte.

Houve uma tentativa de apaziguar algumas críticas dizendo que a produção indicada para esse novo prêmio também poderia estar presente na principal, de Melhor Filme, e que os critérios para julgamento e avaliação ainda estavam sendo discutidos. Essa resposta rápida faz sentido, visto que muitos membros votantes rechaçaram de vez essa criação, com alguns falando em redes sociais e outros de maneira privada, em depoimento a Variety.

Quando Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei venceu a premiação.

A audiência do Oscar realmente vem diminuindo a cada ano, sendo a da edição de 2018 a pior da história (desde o início da era televisionada) e a primeira a ter baixado da casa dos 30 milhões. Existe um claro descontentamento com métodos adotados e a escolha dos longas que poderão disputar cada categoria. Entretanto, criar uma nova, separada, não deve atrair pessoas, até porque a entrega desse troféu duraria alguns poucos minutos, mas sim mostrar para o mundo que a Academia não quer colocar os “filmes populares” com sua devida relevância e importância, mesmo tendo feito com alguns casos recentes. Falta ainda acreditar que o cinema não é micro, mas sim macro e que qualquer ponto de vista dentro das histórias, sendo eles rentáveis ou não, deveriam merecer serem lembrados durante a cerimônia, mas não de maneira pequena e sim gigantes, como realmente são. Se a intenção é ganhar audiência e disseminar essa arte tão amada, parece que está sendo feita ao contrário.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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