Resenha – A Solidão de um Quadrinho Sem Fim (Adrian Tomine)
Será que realmente cheguei aonde cheguei? Talvez essa poderia ser a frase perfeita para resumir uma obra que vai retratar os percalços de chegar a um pouco de realização suprema, mesmo que isso realmente não seja tipificado. É um pouco disso que ocorreu com a vida de Adrian Tomine – e que ele busca retratar de maneira quase autobiográfica. É assim que surge A Solidão de um Quadrinho Sem Fim, uma espécie comédia dramática sobre a vida de ser propriamente quadrinista. Tomine não teve uma facilidade para chegar aonde chegou, especialmente porque quando alcançou o auge, perccebeu que talvez ainda tivesse que correr mais atrás.
A HQ surge em uma espécie de curtas histórias que vão narrando a vida dele. Primeiramente vemos toda sua subjugação dentro do ambiente escolar, ainda mais quando ele diz que quer ser quadrinista – apesar de comum na França, é ainda quase impensável como forma de “sonho”. Então, como Tomine chegou até o ponto de realmente ir atrás de seu sonho? É um pouco disso que o autor em si vai tentar entender. Nesses pequenos trechos, a qual acompanhamos, o autor busca ironizar a si mesmo a todo instante. Então, de que forma poderemos realmente gostar de uma pessoa assim?
É isso, todavia, que torna tudo interessante. Nos afeiçoamos a essa figura complexa, que parece deslocada do seu espaço temporal. O julgamento perpassa desde o início da sua vida até os dias atuais, por isso o trabalho serve como uma maneira de jogar pra fora isso. É quase uma sessão de terapia acompanha em formato de quadros, a qual também estamos conectados de alguma forma. Quem nunca achou que poderia ter chegado ao auge da sua vida ou até carreira, mas ai depois percebi que ainda precisaria percorrer muito? É através de obstáculos, afinal, que a vida acontece. E é por um pouco desse processo de reflexão que o artista traz na produção.
Apesar disso, Adrian Tomine tem um traço caracteristíco bem autodepreciativo. A todo instante é como se realmente julgasse porque ele merece aquilo tudo. Em um dos momentos chaves de A Solidão de um Quadrinho Sem Fim vemos ele uma premiação, a qual Frank Milller, um de seus ídolos, não sabe falar seu nome. É um momento de extrema vergonha e até passível de ser rídiculo. Mas por que isso precisaria ser tão importante para a carreira? É um pouco dessa brincadeira de se colocar como alvo da piada, que Tomine trabalha os elementos desse universo como apenas reforçamento de um estranho mundo.
Em uma das cenas também vemos ele sendo ignorado por diversos fãs de quadrinhos que, ou querem ver Neil Gaiman, ou até o acabam confundindo com Chris Ware, por exemplo. É um pouco dessa graça, novamente, de brincar com si mesmo, que o autor levanta questionamentos. Nesse instante, isso acaba indo para o lado do debate do verdadeiro espaço para novos nomes dos quadrinhos. Será que realmente o mundo está aberto de portas para essas pessoas que tem o sonho de fazer HQs? Por que entrar de cabeça em uma realidade que pode apenas te colocar mal ou até propriamente o expulsá-lo? Afinal, vale realmente a pena seguir o sonho?
A Solidão de um Quadrinho Sem Fim é realmente como o próprio título diz. O quadrinho ainda não foi completo pois é como a própria vida. Adrian Tomine não tem interesses em ser extremamente no complexo na forma dos debates que trava, mas acaba chegando em camadas ainda maiores. Ao olhar para si mesmo como alguém que não deu certo – mesmo tendo dado -, é como se ele abrisse possibilidades para qualquer um chegar até li. De certa forma, a obra funciona quase como um caráter motivacional. Isso porque, se já estamos no fundo do poço desde sempre, porque não tentar apenas uma vez, pelo menos. Todos merecem oportunidades e buscar o que acreditam. Apesar disso nem sempre ser bem sucedido. E realmente nem sempre será, é a vida. E é nela, que vivemos um quadrinho sem fim.