Cobertura Mostra de São Paulo 2020
Nessa postagem falaremos sobre todos os filmes vistos durante o Mostra de São Paulo 2020, com breves comentários sobre todos. Os que tiverem críticas com maiores detalhes dos longas em si estarão com o link embaixo:
. Nova Ordem
Confira a crítica aqui.
. Coronation
Confira a crítica aqui.
. Mães de Verdade
Confira a crítica aqui.
. Suor
Confira a crítica aqui.
. Shirley
Confira a crítica aqui.
. O Problema de Nascer
Confira a crítica aqui.
. O Tremor
Filme indiano de Balaji Vembu Chelli, O Tremor possui uma proposta até bastante direta e simples. A história se passa, quase completamente, dentro de um carro. Isso porque um fotojornalista (Rajeev Anand), a qual não sabemos o nome, é chamado para retratar um terremoto que teria acontecido em um vilarejo isolado. O grande porém é que, quando ele chega lá, ninguem sabe sobre tal tremor, que parece nunca ter ocorrido.
É interessante o jogo de verdades e mentiras que vemos dentro da obra. Há uma perspectiva de nunca realmente estarmos totalmente claros sobre a história, que parece ter múltiplas versões para múltiplas pessoas. Nesse contexto, é até possível se conectar com tempos sobre fake news que vivemos e as distorções sobre a verdade, ou seja, o que existe. A narrativa dá até um certo destaque para isso, ao tratar com bastante planos subjetivos a trajetória do jornalismo até chegar a vila. Por lá, vemos uma câmera mais distante, como se, na realidade, ele estivesse perdido sobre a situação. Ao mesmo tempo, também temos uma sequência, também na subjetiva, que retrata todo o andar de um repórter no meio da tragédia de um terremoto.
Assim, Chelli abre possibilidades de ideias e pensamentos sobre as possibilidades de acontecimentos. Como não temos clareza de muita coisa, o mais intrigante parte pelo lado dessa busca infinita pela verdade no jornalismo. Apesar disso, o longa, em muitas ocasiões parece muito mais chato, sem saber muito bem para qual caminho quer ir. Ao fim, talvez se assume mais sua cara experimental, a obra faria mais sentido.
Nota: 2,5/5
. Lua Vermelha
O cineasta Lois Patiño tem em sua filmografia uma ideia sempre bastante mórbida sobre a natureza. Porém, ele não enxerga isso de um ideal ambientalista, de defesa propriamente desse espaço, mas muito de uma relação da finitude humana perante a existência do ambiente. Em seu longa A Luz Vermelha, Patiño observa esse quesito de um caminho a retratar a força realmente da humanidade na sua finitude particular. O olhar do cineasta, dessa vez, parte de um caráter simplista, ao enxergar os moradores de uma vila que, apesar de terem voz, sofrem uma espécie de paralisia.
Assim, parados, eles parecem quase uma espécie de cúmplices da destruição humana. Nessa pegada menos filosófica e mais propriamente ambientalista e experimental, o diretor caminha para ver que cada um desses seres são culpados pela própria destruição da natureza. Assim, essa começa a atingir um outro ambiente, de, na realidade, tomar as rédeas e se tornar corpo dentro desse cosmos. Por isso, vemos muitas plantações cercados os corpos, além de diversos sons de uma floresta, por exemplo.
Todavia, Patiño abarca em um caminho de também debater sobre a finitude humana em si, ao trazer diversos fantamas – ou, diretamente, pessoas cobertas com um pano. Eles novamente também são cúmplices dessa circunstância, porém acabam por entrar em uma discussão que a obra não sabe bem até que ponto realmente trabalha aquilo. Dessa maneira, ao tentar trazer uma gigantesca filosofia, o cineasta se perde, transformando o filme em até certa parte, bobo. Há um caráter de debate sobre o meio ambiente bastante interessante realmente, porém renegado ao quase nada.
Nota: 2,5/5
. Bem Vindo à Chechênia
Confira a crítica aqui.
. Mate-o e Deixe Essa Cidade
A arte é um elemento de fuga, evasão da realidade. Apesar de sempre também refletir o atual estágio do mundo, a forma como as pessoas se relacionam, por exemplo, ela também funciona como uma maneira de tentar entender em que ponto chegamos, e estamos. É dessa forma que o polônes animador Mariusz Wilczyński utiliza seu filme Mate-o e Deixe Essa Cidade. Em uma obra que está caminhando sobre a existência, ela serve também como uma maneira de lembrança e entender até que ponto a realidade pode ser boa.
Para acompanhar essa jornada de uma animação, vemos um trabalho extremamente experimental de tempo. Vamos e voltamos, quase como se estivéssemos deslocados nesse mundo. O protagonista, sem nome, tenta entender a si mesmo nesses fragmentos do passado, tendo de se confrontar em como eles acontecem no presente. Existe uma relação até bem interessante, nesse sentido, de Alejandro Jodorowsky, em uma busca dos mais diversos elementos cênicos como representação temporal. No entanto, Wilczyński está longe de realmente chegar em algo mais profundo, acabando ficando em um ponto muito superficial.
A narrativa, de pouco mais de 1h20, vai se tornando um tanto quanto enfadonha. Os elementos que realmente chmamavam atenção para uma maior eclosão de pensamentos – como essa perspectiva dúbia do tempo, viram até comuns, em como o andamento se apresenta. Assim, esses fragmentos de memória do personagem principal, que poderiam causar espécies de lembranças particulares no espectador, tornam-se meramente bobas.
Nota: 3/5
. Murmúrio
O filme Murmúrio, da canadense Heather Young, faz um profundo estudo de personagem sobre sua protagonista, Donna (Shan MacDonald). Essa é conedana por o crime de dirigir embriagada e acaba por, como parte da sentença, trabalhando em serviço comunitário em um abrigo de animais. Ali, começa a se afeiçoar por aqueles bichos, muitas vezes bastante indefesos de tudo. Isso, da mesma forma que a protagonista, a qual se vê totalmente indefesa e julgada por todas. A postura de MacDonald, sempre para baixo, cansada, demonstra bem esse sentimento.
Toda a conexão profunda estabelecida pela personagem é com um cachorro que ela adota, esse que estava próximo de ser sacrificado devido a idade avançada. Com essa conexão profunda que ela começa a ter, retratada cheios de momentos íntimos com o bicho, como o fato de dar banho, os carinhos, os passeios, é como se estivéssemos vendo a fuga desse mundo opressivo.
Nesse contexto, o longa sabe bastante explorar uma certa compaixão para com a personagem. Apesar disso, soa bastante morno. A conexão de Donna com os animais vai se tornando algo cada vez maior, ao ponto dela adotar vários em determinado momento. Young filma isso sob uma imponência, como se ela se sentisse agora verdadeiramente integrada com um mundo que a rejeita. Ao fim, Murmúrio, nesse estudo de personagem, parece menos trabalhar propriamente aquela figura diretamente. O maior interesse e desenvolvimento do filme está, na realidade, em como ela vai viver essa nova fase da vida – agora, não mais solitária.
Nota: 3/5
. Siberia
Confira a crítica aqui.
. Sportin’ Life
Para além de Siberia (que falamos aqui), Abel Ferrara tem outro longa dentro da programação da Mostra de São Paulo. Trata-se do documentário Sportin’ Life. Feito originalmente para poder explorar a relação do cineasta com seu parceiro atual de atividade mais longevo – que é, no caso, Willem Dafoe – a obra acaba sendo quase um diário sobre o último ano de Ferrara. Isso porque além das entrevistas e momentos íntimos, acompanhamos também a chegada do coronavírus na vida do diretor, e como foi sua recepção.
É curioso como, apesar de ser uma obra que poderia explorar esse lado de abertura da vida, acaba pouco fazendo isso. É mais um trabalho que se utiliza de uma artifício da relação de Dafoe para poder explorar alguns momentos mais íntimos – com destaque para as diversas gravações e sequências em que cantam músicas ou tocam instrumentos. É como se, a gravação, fizesse parte de uma forma de colocar para fora todo o sentimento e coisas que não consegue em seus filmes. Porém, isso fica no caráter da aparência, já que o filme pouco consegue fugir além de algo que poderia ser.
Nesse sentido, Sportin’ Life fica até bastante confuso, mesmo com a curtíssima duração. Toda a chegada da covid-19, o debate sobre o isolamento, soam um pouco gratuitos, do nada, aparecendo como uma simples forma de continuidade da vida. Isso até faz sentido dentro da proposta de um longa diário. Porém, poderia fazer ainda mais sentido se estivéssemos em contato com um Abel Ferrara aberto a verdadeiramente se mostrar. E não é o que acontece.
Nota: 2,5/5
. Dezesseis Primaveras
Aos 16 anos, Suzanne (Suzanne Lindon) é uma menina francesa que se entendia facilmente com tudo relacionado a sua idade. Os jovens não parecem interessantes, enquanto a vida dentro de casa é algo muito mais vívido. Ela parece viver quase dentro de uma margem de um grupo relacionado a sua faixa etária, devidamente excluída – mesmo que esses sempre a tentem encaixar nessa realidade. Tudo muda quando ela conhece um homem mais velho, que está trabalhando em uma peça de teatro. Os dois começam, então, a se tornar obcecados um pelo outro.
Mais do que sendo apenas a protagonista, Suzanne Lindon também é a realizadora de Dezesseis Primaveras. De fato, há um caráter bastante jovial nessa abordagem que vai brincar com a própria ideia de amadurecimento, especialmente no conceito social que mulheres “amadurecem mais cedo”. Lindon concebe seu universo como algo sempre à exploração para a personagem, através de diversos planos muito abertos ou até câmeras subjetivas. No entanto, assim que encontra esse homem, é como se ela buscasse estar em um outro estágio de sua vida. Assim, passa a buscar cada vez mais esse crescimento.
Isso idealiza momentos únicos dentro da obra, como o caso da dança em conjunto, ou até dos diálogos sobre crescimento. É como se a própria Suzanne estivesse perdida temporalmente, buscando algo que realmente ainda não chegou. Ao mesmo tempo que ela se encontra onipresente em uma idade que parece apenas lhe agarrar para um vazio. Nesse jogo sobre entendimento de quem é, se torna curioso como Dezesseis Primaveras busca muito mais todo o sentimento da protagonista, assim como em Me Chame Pelo Seu Nome. Ao fim, parecemos estar observando muito mais um estudo de personagem, do que propriamente uma narrativa que tenha uma temática por si só.
Nota: 3/5
. Casa de Antiguidades
Confira a crítica aqui.
. Mamãe, Mamãe, Mamãe
Confira a crítica aqui.
. Não há Mal Algum
Confira a crítica aqui.
. Kubrick por Kubrick
Confira a crítica aqui.
. Al Shafaq: Quando o Céu se Divide
Confira a crítica aqui.
. Os Nomes das Flores
Che Guerava. O nome do revolucionário cubano é extremamente complexo e bastante debativo até os dias atuais, mesmo muito tempo após sua morte. Aliás, esse seu legado é sempre tratado de forma muito dúbia, visto por alguns como um grande papel de liberdade para o povo, enquanto outros analisam sob o aspecto de um dos responsáveis por um início de uma ditadura cubana. Toda essa discussão faz parte da linha narrativa principal de Os Nomes das Flores. No longa, que acontece em uma cidade do interior da Bolívia, uma professora da cidade é convidada a contar a história de Che, 50 anos após seu falecimento. Isso porque ela teria servido uma sopa para o líder e outros guerrilheiros durante a época da luta armada. Entretanto, tudo começa a mudar de figura quando outras mulheres dizem terem sido responsáveis por esse ato.
Com uma história que poderia desenbocar para um debate ideológico – ainda mais em um país como a Bolívia -, o filme parece querer seguir em passos mais simples. Por isso, toda a forma de entender o universo que se tem por parte do diretor Bahman Tavoosi acontece menos no embate da população e mais em questões personalistas. A trama, que se baseia mais em um caráter sensorial, quase traz um lugar bastante inóspito, quase como uma espécie de faroeste. Dentro disso, qualquer ação poderia se desenbocar em uma guerra interna, que, no caso, torna-se toda a história com Che Guevara.
De toda forma, Os Nomes das Flores parece realmente não querer seguir em algo maior do que sua simples ideia inicial. Em sua forma, tudo parece ter um caráter quase de brincar com essa simplicidade da figura do revolucionário com essa também simplicidade dos personagens. Assim, até chegando a tratar de leve a guerra sobre notícias atuais, o longa parece até querer ir além, mas se contentar sempre com muito pouco.
Nota: 2/5
. Valentina
Confira a crítica aqui.
. Colômbia era Nossa
Confira a crítica aqui.
. Miss Marx
Confira a crítica aqui.
. Limiar
Confira a crítica aqui.