Resenha – Castelo de Areia (HQ)

A história base de Castelo de Areia gera curiosidade. É impossível não ficar intrigado numa trama sobre duas famílias que vão para uma praia, passar apenas um dia comum, quando se vêem presas nesse local. Só por isso já seria interessante, mas tem algo a mais que transforma essa HQ em necessária de ser lida: o tempo passa rápido demais nesse espaço. Dessa forma, um filho de apenas 3 anos tem 7 em minutos. A vida é apenas um sopro. Essas famílias, junto de um homem que já estava por lá, vão atrás de tentar entender o que está acontecendo e como sair desse inóspito local.

Pierre-Oscar Lévy é um cineasta, sendo esse seu primeiro trabalho com quadrinhos. Contudo, ele tenta trazer um elemento estético bem forte da sétima arte, especialmente na forma que a trama vai sendo construída. Aliás, curioso relatar que a ideia original da obra era ser um filme – que agora vai ser realidade por M. Night Shyamalan. Mas, de toda forma, o elemento do olhar sobre os planos é fundamental para compreender os pequenos espaços de interpretação que o autor deixa. Por exemplo, ao iniciarmos já com um ambiente de areia e mato, junto de uma morte, conseguimos analisar um dos principais tracejos aqui: o fim da natureza pelos humanos.

Desse jeito, entramos em uma espiral em que não se encontra nenhum fim. Tentar fugir apenas desse espaço não dá, então apenas observamos nossa própria destruição como espécie. Esse elemento é curioso porque ele aborda quase como uma revanche natural perante esse microcosmo da sociedade (temos desde um fascista, uma pessoa negra até um jovem que quer descobrir sexo). Contudo, ele é algo tão claro que irá acontecer conosco em algum momento, que se transforma quase como um aviso de Lévy para como estaremos no fim dos tempos natural – e não por nenhuma invasão alienígena.

Mas parte desse olhar de Castelo de Areia se encontra também na ótica de Frederik Peeters, o desenhista. Ele, que fez Pílulas Azuis, tenta trazer sempre uma visão bem ampla dessa localidade. Pouco vemos, por exemplo, closes, ou uma tentativa de se aproximar dos protagonistas. O principal aqui se encontra na maneira omo esse universo sempre os “engole”, os coloca numa situação desconfortável. Assim, até mesmo quando os personagens buscam ir atrás de respostas, eles se vêem como menores, minúsculos, como se nem a explicação mais possível que pudesse existir conseguisse fazer eles fugirem desse mundo.

É uma narrativa que explora realmente uma angústia humana sobre viver. O autor consolida um olhar de pessimismo através de um suspense que parece nunca querer se concluir. Diferente da hipótese de Alfred Hitchcock, em que precisaríamos ter uma resposta para com o público, Levy está mais interessado na maneira como a audiência vai se sentir quando estiver na pele dessas pessoas. Se eles, que adentram em um caminho sem volta, não conseguem aceitar o que irá acontecer, imagina para nós, que estamos sendo avisados a todo instante sobre o final?

Esse curioso olhar faz com que tentemos, porém seja impossível prever o que irá acontecer seguidamente a Castelo de Areia. Nessa HQ, que busca sempre um trabalho atmosférico, talvez o elemento mais curioso seja realmente o lado humano disso tudo. Ao fim, é quase como se um choque de realidade nos colocasse de frente com o que estamos vendo a todo momento. Mas e aí? O que poderemos fazer? Você pode questionar. Bom, talvez apenas aceitar que estamos com o destino traçado.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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