Resenha – Open Source (Kiko Loureiro)
Definitivamente é impossível não prestar atenção quando um dos maiores guitarristas da atualidade lança um trabalho novo. Kiko Loureiro é um desses casos, de quase unanimidade entre os fãs de rock e também os instrumentistas por si só. Dono já de alguns álbuns solo – sempre no formato instrumental -, o artista parece sempre ter usado esse espaço para buscar uma versatilidade e até uma experimentação maior. Agora no Megadeth, é provável que sua carga de possibilidades rítmicas tenha sido anulada um pouco, especialmente devido ao domínio de Dave Mustaine no grupo. Sendo assim, Open Source é quase uma liberação de Kiko para se expressar através de notas.
E isso já é mostrado desde a primeira nota. Quem espera encontrar de cara um acorde pesado de guitarra ou algum solo marcante do guitarrista, acha exatamente o contrário. Um som melódico de violão, rememorando seus tempos de baladas no Angra. Entretanto, após a introdução, já nos deparamos com um riff que poderia estar claramente em um CD de metal de muitas bandas. Essa faixa de entrada, “Overflow”, traduz quase todo o espírito que poderá ser ouvido dali para frente na quase 1 hora de disco. A carga de experimentos é trazida a todo caminho e a cada novo acorde. Dali, já é possível perceber a forte influência do rock progressivo sob ele.
Apesar de ser uma boa abertura, é na sequência que já atingimos o ápice desse novo trabalho. Definitivamente, Kiko mostra toda sua carga de evolução e sua melhor obra solo desde No Gravity, de 2005. “EDM (e-Dependent Mind)” é, para mim, sua melhor música, disputando com “Pau-de-arara”. A versatilidade rítmica e de possibilidades exploradas com a guitarra quase lembra algo feito por Joe Satriani e Steve Vai. É a demonstração clara de como o artista atingiu um nível ápice de originalidade. Parecemos estar ouvido uma mistura de trash metal, progressivo e classic rock, em uma mistura que muda a cada virada de bateria. “Imminent Threat” e “Liquid Times”, que vem na sequência, só confirmam essas possibilidades observadas pela guitarra.
A pausa dessa melodia complexa vem em “Sertão”, que encaixa em uma espécie de melodia que já estamos acostumados a ouvir – até bastante comum. O que mais poderia se destacar é a levada da segunda guitarra, que constrói quase sempre uma rima tão própria, que parecemos ouvir dois solos. Todavia, essa sensação de repetição advém, principalmente da carga enérgica de uma relação com o baião, coisa muito realizada por ele na era do Angra. Continuando com “Vital Signs” e “Dreamlike” que parecem serem ótimas para apresentações ao vivo, especialmente como transição. Entretanto, dentro do “Open Source”, estão mais deixadas de lado.
É interessante como essa sequência é quebrada por quase uma história sendo contada através de riffs em “Black Ice”. O início, apenas com a chuva, dá essa carga ainda mais direta de atmosfera. Durante toda a faixa é possível ouvir também vozes, como se estivéssemos quase em um ambiente de apocalipse contaminada pelas notas velozes. “In Motion” olha de forma similar esse caminho do CD, entretanto em uma pegada mais voltada para o heavy metal, chegando até a trazer algumas pegadas eletrônicas. “Running with the Bulls”, entretanto, parece rememorar mais a “Black Ice” nessa carga para além dos próprios instrumentos. É uma espécie de faixa quase feita para algum jogo, rememorando bastante “Rip & Tear” feita por Mick Gordon para o jogo Doom. Isso, obviamente, com a leveza da guitarra de Loureiro.
O fim com “Du Monde” é quase uma homenagem a toda sua trajetória, em uma canção que mescla o metal progressivo e o trash de forma bem harmônica. A bateria, que mais acompanha do que propriamente cria algo, ainda traz mais esses trejeitos de um espaço apenas para brilho dos acordes eletrônicos.
Assim, Kiko Loureiro, em seu primeiro CD desde que entrou no Megadeth, olha com bastante carinho para sua carreira, porém vislumbrando novas possibilidades. Se sua ideia era fazer um desabafo em forma de música, Open Source cumpriu seu papel. E não sai dos ouvidos, de jeito algum.