Resenha – Rush (Maneskin)
Sendo talvez involuntariamente autorreferencial, o frontman do grupo italiano Maneskin canta o seguinte verso em “GOSSIP”:
“You’re not iconic, you’re just like them all. Don’t act like you don’t know“
Mesmo que tenha expelido essas palavras por meio de uma legião de compositores terceirizados, essa frase talvez seja a melhor síntese possível do novo trabalho da banda vencedora do Eurovision 2021, o álbum Rush. Esse projeto é o primeiro do Maneskin a ser publicado majoritariamente em inglês, com participação importante até de algumas figuras emblemáticas da música mainstream como o produtor Max Martin (o cara por trás de “…Baby One More Time”, de Britney Spears, e “I Want It That Way”, dos Backstreet Boys) e Tom Morello, icônico membro do Rage Against the Machine. E os colaboradores não param por aí! Por trás das cortinas também estão envolvidos inúmeros compositores de hits cantados por Katy Perry, Adele e Kesha. Todo esse plantel reunido – e todo esse orçamento gigantesco disponibilizado pela gravadora – para tentar catapultar a banda de rock italiano para uma nova prateleira do pop.
Porém, como mencionado na frase da canção citada acima, o resultado passa longe de ser lembrado como algo único. Ao contrário, é só mais um álbum que tenta fundir a energia sonora do glam-rock com as fórmulas já muito bem conhecidas do pop. Nada muito diferente do que bandas como Maroon 5 ou Muse já fizeram no passado. Falando a verdade, não é diferente mesmo, é idêntico.
Em múltiplas faixas desse LP, me peguei pensando que estaria ouvindo talvez uma versão ainda mais genérica daquele pop-rock que ficou famoso na última parte dos anos 2000. Álbuns como It Won’t Be Soon Before Too Long do grupo de Adam Levine e companhia, ou a maioria das canções da banda The Script, são lembranças recorrentes durante a escuta de Rush. Esse tipo de infusão musical que dominava as rádios dos anos 2000 hoje se passa como algo lavado ou no melhor dos casos, uma falta de esforço criativo.
Na maior parte do álbum, Damiano e seus companheiros soam como se estivessem no ensaio de uma banda amadora que se reúne após a escola na garagem do amiguinho. Quando não imitam o pop-rock dos anos 2000, estão tentando forçar uma sonoridade pesada de stadium-rock que, mais uma vez, sai como artifical, mal mixada e apática, acompanhando letras completamente infantis que beiram ao rídiculo. Nós já sabemos que vocês querem passar a aura de serem rockstars do estilo antigo, mas não precisam se transfigurar como adolescentes no cio. Letras como “I read your diary to try to get inside you” e outras frases infelizes são presença frequente no projeto. A sutileza com certeza não é um conceito muito bem conhecido pelos idealizadores desse álbum.
Se pelo menos as músicas fossem agradáveis, até que se abriria uma excessão. Ou se pelo menos o propósito disso tudo fosse fantasiar a banda como uma divertida alegoria de tempos já deixados para trás, acho que toda essa ambientação cairia muito bem. Mas, novamente, em sua maior parte o álbum é apático e insosso. Poucas vezes senti o potencial criativo realmente sendo alcançado, talvez em músicas como “Don’t Wanna Sleep”, “Gossip” (que contém uma aparição cativante de Tom Morello) e “Supermodel”, onde alguma centelha de criatividade se mostra e transforma as músicas em peças centrais dinâmicas e envolventes do álbum. Ou até mesmo nos momentos em que a banda volta ao seu modo natural e canta músicas elaboradas em italiano. Ali sim se pode perceber que estão mais a vontade, mais soltos. As músicas fluem com mais nitidez e energia.
Outro ponto positivo que eu conseguiria realçar é também a balada “The Loneliest”. Eu sou suspeito pra falar sobre músicas tristes, tenho certa afeição pelo subgênero. Mas a composição dessa faixa é completamente magistral. De começo me parecia só mais uma imitação de música triste do My Chemical Romance, só que conforme fui escutando mais e mais o álbum, “The Loneliest” virou o ponto vital de todo o projeto e (talvez juntamente com “Supermodel”) a música com uma performance mais forte e estável de todos integrantes da banda. A orquestração, a produção da faixa é genial no sentido de ser uma música pop perfeita: te deixa com o refrão colado na mente e com gostinho de quero mais. É um acerto raro de Max Martin nessa nova década.
Resumindo, Rush é um álbum comercial feito com a ajuda dos Vingadores da música pop americana. Todo esse esforço reunido resultou em um projeto monótono, artificial e desgastante, que contém raros momentos de criatividade e energia sincera. Esses momentos porém, são suficientes para me deixar curioso sobre qual o rumo a banda Maneskin tomará daqui pra frente. No quesito financeiro eles estão mais do que bem servidos, mas a tutoria sonora do grupo precisa ser reavaliada urgentemente.