Crítica – Noites Alienígenas

Meu primeiro impulso ao falar de Noites Alienígenas é realizar uma comparação temática com Marte Um, visto que os dois flertam com as possibilidades do espaço: o filme mineiro utilizando a missão para Marte como um símbolo das possibilidades oferecidas pela vida. Na obra acreana, o espaço é visto como algo mais místico, capaz de agir na vida subitamente, mudando tudo, expandindo as coisas. Como explica Alê (Chico Diaz) para Rivelino (Gabriel Knoxx) após falar sua teoria sobre as pirâmides: “Tem que expandir o espaço, o que tá aqui dentro”, diz, apontando para a cabeça do jovem.

Nesta cena, abertura do filme, Rivelino pinta um disco voador no espaço para Alê, mas a obra demora a ser vista. Simbólico, pois a produção, conduzida por Sérgio Carvalho, tem os pés no chão, na trágica realidade que se desenha na periferia de Rio Branco. O personagem de Diaz é traficante, e Rivelino trabalha com ele, mas parece insatisfeito, quer mais. O crime é o fio condutor de quase todas as relações do filme, aquilo que move os personagens, seja puxando ou afastando.

E são muitos personagens. À sua maneira, Noites Alienígenas se esforça em pintar um Acre variado, rico em expressões, refutando aquelas velhas piadinhas de internet sobre o estado não existir. Sandra (Gleici Damasceno) trabalha como garçonete de dia, e de noite, junto a amiga Kika (Kika Sena), participa de Batalhas de Slam. Além disso, há Paulo (Adanilo Reis), viciado em drogas que, por sua condição, é ostracizado por todos. Há também espaço para as expressões da população nativa brasileira, e seu contraste com os movimentos religiosos evangélicos.

Há força nessa variedade, até mesmo por motivos regionais, de se propor uma nova imagem para a região tão cercada de estereótipos, especialmente no imaginário sudestino. Com isso, a narrativa sempre se renova, procurando mostrar um ou outro aspecto daquelas pessoas. No entanto, devido a sua curta duração – noventa minutos – muitas dessas tramas ficam subaproveitadas, e são simplesmente deixadas de lado. Como resultado, a trama, interessada em investigar a relação entre os personagens e como elas são afetadas pelo crime, perde o seu foco, resultando numa narrativa dispersa, embora nunca trivial.

Noites Alienígenas eventualmente encontra o seu fio condutor para os momentos finais, mas o pouco desenvolvimento prévio prejudica a catarse necessária para a colisão final, que depende de um pouco mais de profundidade para funcionar plenamente. É um longa dividido, pois quer funcionar nessa lógica de retrato, buscando captar a experiência de ser jovem no Rio Branco, sem necessariamente desenvolver uma história, mas, simultaneamente, quer fazer exatamente isto. Assim, a tragédia da trama perde um pouco da sua força, mesmo que o caminho até esse momento seja interessante observar.

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