Resenha – Senjutsu (Iron Maiden)
O Iron Maiden, ao longo de sua trajetória, sempre tratou e abordou o tema da guerra, dos conflitos. Obviamente isso existe desde um aspecto mais histórico, em clássicos como “The Trooper”, “2 Minutes to Midnight” e “Aces High”, até um ambiente conflituoso, que passam desde “The Rime of the Ancient Mariner” até “Run to the Hills”. No entanto, se esse tema foi trabalhado sempre de maneira mais historiográfica, em busca de contar uma história, agora parece que Bruce Dickinson, Steve Harris, Dave Murray, Adrian Smith, Nicko McBrain e Janick Gers quiseram buscar uma gênese mais filosófica sobre a guerra. Assim, nasce Senjutsu, que já pode até ser chamado de um novo clássico da Dama de Ferro.
E é importante dizer que isso parte desde um lado estético, até mesmo na forma que as canções são produzidas. Para contextualizar isso, precisamos falar da fase desde 2000 da banda. Nesse ano, quando lançam Brave New World, o grupo conta com o retorno de Dickinson nos vocais depois de algum tempo e busca repaginar um pouco como o Maiden estava assim. Desse jeito, temos um CD um pouco mais longo e com músicas de longas durações, algo que eles não pareciam investir de forma tão incisiva ao longo da carreira. Isso se transformou em algo frequente nas produções seguintes, atingindo o ápice de duração com The Books of Souls, de 2015, com 1h30 – algo que quase é alcançado por esse novo.
Sendo assim, fica bem claro como o Iron Maiden, que sempre buscou os hits mais rápidos e o sucesso até capaz de tocar em rádios, havia se repaginado. E talvez esse grande auge aconteça dentro de Senjutsu, em que a banda consegue consolidar um disco que usa e abusa do épico. Se olharmos a primeira faixa, por exemplo (a título, “Senjutsu”), temos um trabalho que parte em tudo para abordar um lado gigantesco. Desde a bateria, quase como realmente uma entrada em conflito, até toda a abordagem vocal do frontman Bruce, que perpassa um clima de guerra no ar.
E isso continua presente, especialmente também nas famosas “cavalgadas” de baixo de Harris, como em “Stratego”, até mesmo nas guitarras, quase tratadas como uma orquestra em alguns momentos aqui, como em “The Writing On The Wall” e “Days of Future Past” (especialmente o refrão dessa última, fazendo congruência com a voz de Dickinson). É realmente uma produção que olha com bastante cuidado a forma como as canções vão se colocando uma em cima das outras, sempre trazendo um imenso destaque para essa construção estilística do que a obra está buscando trabalhar. Os temas, como dito anteriormente, perpassam realmente essa análise mais filosófica sobre os conflitos da humanidade, sempre buscando entender em que ponto chegamos. E a capa, com um samurai pronto para batalha, fortalece mais isso.
Mas Senjutsu não esconde que possui uma divisão bem clara na formatação do CD. Assim, a parte 1, que finaliza com “The Time Machine” traz um ápice menos abusado, experimental, por assim dizer. É uma banda que parece bem interessada na relação mais artística, narrativa e até mesmo de shows para essas músicas. No entanto, temos uma segunda parte que também traz os mesmos elementos narrativos e da produção, na forma como cada música é construída. Todavia, parece muito mais interessada em trabalhar algo mais melancólico de toda esse conceito das guerras. Por exemplo, em “Death of the Celts”, ao trabalhar com eventos históricos, os integrantes também se utilizam de uma tristeza no ar. Os riffs e refrãos são menos catárticos e mais “corretos”.
Esse novo disco do Iron Maiden parece uma demonstração bem clara do que a banda ainda tem capacidade de fazer e abordar. Complexo na sua própria magnitude, é verdadeiramente um clássico por conseguir ser muito além do que poderia ser possível e até pedido, em muitos casos pelos fãs, de um grupo nesse estágio atual. Senjutsu já entra na prateleira de um disco que qualquer um que aprecia rock e metal deverá ouvir de novo e de novo por bastante tempo. Apesar dessa duração excessiva (1h21min), a construção de um épico não poderia ser feita com pouco. E Bruce Dickinson, Steve Harris, Dave Murray, Adrian Smith, Nicko McBrain e Janick Gers parece que já entenderam muito bem isso.