Resenha – Suzette ou o grande amor (Fabien Toulmé)
Se tem alguma coisa que os franceses sempre souberam falar de forma clara e interessante nos quadrinhos é o tempo. E isso através de um lado mais fantasioso da coisa até mesmo explorando esse lado dramático dos personagens. Dentro disso, um dos grandes nomes de uma atual geração que explora esse tema a exaustão é Fabien Toulmé. Ele já buscou isso em uma perspectiva totalmente pessoal da coisa (como em Duas Vidas), como também buscando toda uma historiografia para basear a vivência dessas figuras exploradas (o que acontece na trilogia A Odisseia de Hakim). Porém, Suzette ou o grande amor talvez seja seu trabalho que vai buscar trabalhar esse tempo como algo negativo, uma perda. Como alguma coisa que poderia ter acontecido diferente do que é.
E isso fica tão claro já que não acompahamos a HQ pelo ponto de vista da verdadeira protagonista. Suzette – que da até nome ao gibi – é secundária, deixada de lado, assim como boa parte de sua vida pessoal foi ao longos dos anos. A perda do marido não se transforma em algo inteiramente negativo, mas sim em um grande alívio de talvez poder ser alguém a qual foi renegada durante todo esse tempo por uma sociedade machista. Contudo, a trama aqui é vista sob a ótica da neta dessa mulher, Noémie. Ela que parece se deslumbrar com o amor, vivendo a experiência de uma vida a dois pela primeira vez. Só que, quando uma antiga paixão da avó reaparece, a família se junta para ajudar Suzette a não esquecer de si mesma.
Como dito anteriormente, o quadrinho pelo qual tratamos aqui busca abordar o tempo. A vida, a passagem. É interessante como, sob o olhar da neta, é descontruída a figura de um avô muito presente e parceiro para alguém que ignorou a existência da tão querida avó durante muitos anos. Todo esse passado, marcado por diversas traições, nem chega a ser explorado, porque seu objetivo é justamente tentar trazer uma complexidade de mundo em que essas mulheres não são vistas nem em si mesmas. Por isso, há também uma construção dramática da relação de Noémie com o namorado. Ele que, apesar de bom em alguns momentos, também a coloca para o lado em diversos outros.
O brilho feito por Toulmé também está na trajetória, no trajeto para a chegada até a esperança de algo novo. Esse homem, uma antiga paixão de Suzette, poderia não ser ninguém, só que também pode ser a possibilidade de alguma felicidade na vida, mesmo que muito mais velha. Tal direito é, de fato, esquecido pelos jovens, de como os idosos também podem ser felizes, até mesmo no amor. A conjectura é tentar construir algo novo, possível, para uma pessoa que sofreu tanto – até mesmo por amor – durante todos os anos casada.
Suzette ou o grande amor conquista o leitor justamente na simplicidade, e na facilidade de se encaixar com personalidades tão complexas. Bem distante de trabalhos mais brutos e que buscam ser complexos, Fabien Toulmé traz na HQ uma fácil saga do amor. Uma trajetória igualmente apaixonante, bonita e impossível de não ser apreciada. No fim das contas, são esses personagens, desenvolvidos como pessoas que buscam encontrar algo, pelo qual nos afeiçoamos tão facilmente. E são eles que vão encontrar a felicidade no fim.