Séries e filmes: o que os dois têm em comum?

Nos últimos anos, entre diversas listas de melhores filmes do ano de alguns amigos/conhecidos/cinéfilos estavam séries. Ou até episódios de um seriado, como no caso mais recente dos capítulos de Small Axe, produção de Steve McQueen, que saiu internacionalmente pela Amazon no último ano. Tal coisa levante um sério dilema e até dúvida curiosa de minha parte: até que ponto filmes e séries estão em contato e até que ponto estão distantes? É possível considerar para uma lista de longas-metragem algum desses seriados por si só ou até um episódio específico, como citado anteriormente? Bom, minha resposta é não. E vou tentar me explicar um pouco aqui o porquê disso.

Inicialmente, é preciso destacar de forma bem clara como filmes e produções de forma seriada são diferentes. Obviamente elas se tangenciam por se tratarem de obras audiovisuais, mas apenas nisso. Um filme em longa ou curta metragem pode até ter a mesm duração, mas ele se notabiliza por ser algo fechado em um núcleo por si só. Nesse contexto podem existir – obviamente – antologias, porém essas se notabilizam justamente por serem curtas histórias que se tornam uma produção de 2 horas, por exemplo. Trazendo o que disse antes, Small Axe também é uma antologia, mas de forma seriada, já que cada um dos capítulos possui seu próprio tempo para desenvolver as coisas (não a toa, foram considerados “filmes isolados”).

Mas bem, para além dessa diferença, há uma clara questão estrutural. Uso assim como exemplo a terceira temporada de Twin Peaks, que saiu em 2017 pela Netflix e entrou em muitas listas como primeiro lugar do ano no cinema. A produção é uma continuidade de outros dois anos feitos pelo cineasta David Lynch. Porém, mais do que isso, a obra feita pensada para ser exibida e vista em partes. Tem os chamados cliffhangers – aqueles finais de episódio que deixam com vontade de ver o que virá em seguida -, além do seu uníssono não ser pensado como um longa metragem gigantesco. Se isso fosse considerado, qualquer minissérie pode ser pensada como filmes, o que não é o caso.

É complicado realmente como a definição de filmes e seriados foi se tornando mais diluída conforme o avanço dos streamings. Se anteriormente uma série era pensada diretamente para TV, agora ela é também feita para os canais que podem ser vistos na internet. A complexidade disso ganha espaço dentro dos debates teóricos acadêmicos cada vez mais, porém não quero ir afundo neles para trazer esse debate a um campo mais aberto. Até porque, acima de qualquer circunstância, um filme é pensado como filme, e uma série como série. Por isso mesmo, Twin Peaks e Small Axe foram em busca de disputar o Emmy e não o Oscar.

Outro exemplo recente é We Are Who We Are, minissérie feita por Luca Guadagnino. Pensada claramente para ser exibida de forma desfiada, dividida por episódios, ela é clara na sua ideia de ser uma produção televisiva serializada. Contudo, novamente, diversas pessoas deram destaque entre os melhores do ano para a produção, que não se incubiu nenhum momento de defender isso.

Obviamente, esse parece um debate bobo e que vai se tornando cada vez mais complexo com o tempo. Mesmo com a vontade de diluição dos conceitos no mundo pós-modernos, eles são necessários para saber sobre o que está se tratando. Senão, as coisas podem não fazer mais sentido, e nem o que estamos vendo. Essa discussão só irá continuar cada vez mais, tornando-se cada vez mais indulgente por todos os lados. Contudo, é preciso que ele seja levantada. Até para que entendamos aonde as produções de cada área estão.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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