The Prom – A Festa De Formatura: diferenças entre livro e filme
Emma Nolan é uma adolescente que mora em uma pequena cidade de Indiana chamada Edgewater, nos Estados Unidos. Não é fácil ser a única pessoa LGBT+ assumida do colégio e fica ainda mais difícil quando a Associação de Pais descobre que ela pretende levar uma garota ao baile. A Associação cria regras absurdas para impedi-la e ameaça cancelar o evento. Seu caso difundiu rapidamente pelo país, fazendo estrelas de Nova York pisarem em Indiana para confrontarem os habitantes conservadores. Emma nunca imaginou que as coisas chegariam a esse ponto, ela só queria dançar com a namorada Alyssa. Tanto The Prom – A Festa De Formatura como filme da Netflix, dirigido por Ryan Murphy, quanto o livro lançado pela Editora Alt, são adaptações do mesmo musical da Broadway, portanto apontarei as diferenças mais marcantes entre eles:
Personagens:
O livro é focado em Emma e Alyssa, com os capítulos são intercalados pelo ponto de vista das duas. Por ser curto e ter um outro propósito, não coube todos os personagens originais, diferente do longa de Murphy, que busca mostrar um pouco de cada figura e assim como o musical, possui dois personagens que foram deixados de fora na adaptação literária, são eles: Angie, interpretada por Nicole Kidman e Trent Oliver, interpretado por Andrew Rannells.
No filme, Barry Glickman e Dee Dee Allen, duas estrelas narcisistas que vão ajudar Emma com o único propósito de fazer publicidade. Elas possuem mais aprofundamento. Barry, interpretado por James Corden, tem um passado bem semelhante ao presente de Emma. Ela foi expulsa de casa aos 16 anos pelos pais e acolhida pela avó, enquanto ele decidiu sair de casa por conta própria na adolescência devido a rejeição dos pais. Meryl Streep da vida a Dee Dee Allen, uma experiente e egocêntrica atriz que aos poucos vai aprendendo ser mais altruísta conforme conhece as pessoas dessa cidade caipira, como a mesma chama. No longa nós temos conhecimento de seu passado nada fácil com o ex-marido, que antes de casar com ela não tinha um centavo no bolso. Dee Dee foi ajudando-0 em seu crescimento profissional e quando ele atingiu o sucesso resolvendo abandoná-la.
Fazendo o movimento inverso, uma personagem que é bastante evidente no livro e possui apenas uma única cena no filme é a vó de Emma. Nan é uma excepcional, ela acolheu Emma quando foi expulsa de casa e desde então foi extremamente acolhedora, apoiou e incentivou a neta na luta pelo direito de ir ao baile com a garota que ama.
Relacionamento:
Como dito antes, The Prom – A Festa De Formatura, o livro, é focado em Emma e Alyssa. Logo, sabemos muita mais sobre elas e seu relacionamento. Sabemos como elas se conheceram e todo o romance. Já na produção para o streaming, a Alyssa tem menos relevância, seu problema com a mãe é abordado, mas superficialmente comparado ao livro. Se você está a procura de um romance sáfico (pessoas alinhadas ao feminino) então o livro é a pedida certa, mas se está procurando por uma comédia musical LGBT+, onde o principal não é o romance, então o filme te agradará mais.
Para ter uma dimensão de como a Alyssa ganhou menos importância no filme, na obra literária, apesar da festa inclusiva ser ideia de Emma, quem organiza tudo é Alyssa. Alguns podem até dizer que a adaptação da Netflix aborda mais a homofobia, porém eu discordo, o livro além de abordar principalmente esse assunto, ele aborda questões essenciais sobre a vivência de uma pessoa LGBTQIA+ – e uma delas é o medo de se assumir. Mesmo com muito medo da sua mãe e das pessoas a sua volta, mesmo magoando o coração da namorada, Emma em momento algum cogitou arrancar Alyssa do armário, pelo contrário, respeitou seu tempo. Mesmo que não tenhamos isso na obra de Murphy, ganhamos uma bela e emocionante cena de Kerry Washington aceitando sua filha.
Desenvolvimento:
Mas é como já sabemos, na literatura há bem mais espaço para desenvolvimento que não se limita a duas horas como em uma obra cinematográfica. Com mais tempo para mostrar o amor entre as duas personagens, toda a dor que as duas passaram, os encontros, os toques, os olhares e todos os pequenos momentos que fazem uma enorme diferença para elas. Coisas que enriquecem a história e contribuem na construção da personalidade das protagonistas. Os adultos perdem espaço, é uma adaptação que entende e faz com que seja algo muito maior que eles, afinal, é sobre elas. No filme, os adultos dividem os holofotes, mas não significa que deixa a desejar nessa parte. É claro que ter dois personagens a mais em um tempo menor fica difícil desenvolver todo mundo igualmente, mas em nenhuma das adaptações, a falta e o acréscimo desses personagens fazem muita diferença, porém é sempre bom assistir Nicole Kidman cantando em uma roupa brilhante.
Conclusão:
Eu amei The Prom – A Festa De Formatura, o longa e o livro. Para quem já conhecia o musical da Broadway ou pretende apenas ficar nesses dois, se tornam ótimos complementos. A obra original é boa para sabermos a parte mais sentimental dessa narrativa e o filme, embora também nos faça chorar, é muito divertido. Eu não fiquei muito satisfeita com James Corden no papel de Barry Glickman , afinal é um homem hétero forçando uma feminilidade e se saindo nada natural na pele de um personagem gay. A escolha me deixou bem surpresa, já que Ryan Murphy é conhecido por dar papéis para pessoas LGBTQIA+. Apesar disso, acredito que ele fez um ótimo trabalho na direção. Toda as músicas, todo o brilho, glamour e diversão que não tinha como ter no livro, ele nos deu. Eu diria que – se não fosse pelo Corde n- é um filme “gay demais da conta”, e as vezes é só isso que queremos e precisamos.