Resenha – A Odisseia de Hakim (Volume 3)
Uma das questões mais fortes para contar uma história épica é o apego a se possuir com os personagens. Se vamos acompanhá-los por tanto tempo, precisamos ter, sem dúvidas, um apreço e relação importante com eles, até para sentirmos o que estão sentido a cada momento. Fabien Toulmé parece entender isso de forma quase perfeita ao fechar a trilogia de A Odisseia de Hakim (a qual resenhamos as edições 1 e 2 aqui). Agora no volume 3, ele continua até o momento findouro dessa longa jornada, mas passando por um momento menos de grandes provações de uma necessidade de encontrar logo seu lar.
Após passar por tanta coisa com seu filho, Hakim vive o fim da sua jornada andando realmente pela Europa atrás de encontrar a família na França. No momento que poderia ser o mais “tranquilo”, ele enfrenta as diversas dificuldades que qualquer emigrante mais teme: a xenofobia e o entendimento sobre lar. Se nos outros dois quadrinhos há um desenvolvimento bem maior sobre se encontrar internamente e também a ideia de família, é interessante como aqui o lado do preconceito e dessa disparidade de vida aflora mais. Desse jeito, diversos pontos e momentos relevantes dele dentro do velho continente chamam a anteção pela desumanidade. E isso perpassa desde a Hungria até a chegada na França.
Toulmé parece se importante menos com uma correria narrativa como alguns momentos do primeiro e segundo volume demonstram. Talvez pela grande quantidade de lugares que o protagonista da história passa inicialmente e as pequenas provações que teve que viver em cada um, é interessante um lado mais de respiro e de realmente vivenciarmos as situações que A Odisseia de Hakim – Volume 3 traz. O momento mais tocante nesse sentido é a vivência em território húngaro, onde ele acaba por ficar em uma espécie de campo de concentração para refugiados. O problema é que, na grande maioria dos casos, esses emigrantes tinham que ficar no local e eram impedidos de continuar viagem para o país de destino. É bonito observar como, a todo instante, Hakim discursa como um vencedor por ter conseguido passar por tudo isso.
Veja nossa crítica da edição 1 aqui, e da edição 2 aqui
Definitivamente, é uma HQ que parece tracejar em uma limar entre o lado mais dramático e uma parte sentimental ali onipresente. Como dito no início, é muito interessante a forma como autor nos faz relacionar com essa figura diferente, mas que parece tanto com todos. Há um certo didatismo presente, é claro, porém que se faz necessário para as relações desenvolvidas na narrativa. Desse jeito, agora já próximo ao fim, somos colocados em perspectiva de que Hakim parece tão perto e tão longe ao mesmo tempo. O desespero cria um elemento de tensão, que existiu em poucos separados nas outras obras.
O fim de A Odisseia de Hakim é emblemático e demonstra uma força histórica e de relatos atemporais única. Fabien Toulmé nunca deixa de fora o lado da complexidade e as possíveis infrações ilegais que o seu protagonista passou. No entanto, ele também deixa claro a persistência por apenas encontrar seu lar, sua forma de viver e buscar um espaço no mundo que foi retirado. É bem interessante o relato que Hakim faz para o autor posteriormente à publicação. Nela, ele demonstra uma vontade de estar na terra natal, a Síria, mas que não pode. Todavia, também se vê, nesse instante, como parte de um universo de oportunidade que demorou bastante a encontrar. O que ele apenas deseja é a felicidade, assim como todos.