Resenha – Tangências (HQ)
O trabalho do espanhol Miguelanxo Prado é, sem sombra de dúvidas, um dos mais admirados e exaltados dentro do território europeu. Advindo de um país com uma tradição um pouco menor no mundo dos quadrinhos (a Espanha), ele foi conquistado um espaço sendo autor que gosta de relatar a vida em sua forma mais simples na sua arte. Recentemente, o Brasil viu o lançamento de Traço de Giz, um dos seus materiais mais recentes, em formato de graphic novel, e que ganhou uma grande destaque. Agora, com Tangências, é possível observar uma nova faceta da perspectiva do autor. Em uma temática também sobre relacionamentos, aqui ele aborda o eterno fim e tristeza do amor.
Acompanhamos oito histórias diferentes que, em meio a uma transa, irão terminar em tristeza. Em todas existe uma parte com vontade de estar mais apaixonada e a outra que quer finalizar o relacionamento, seja por qual motivo for. Dentro dessa circunstância, Prado usa para experimentar diferentes visões e observações sobre o que poderia ser uma relação amorosa e até que ponto ela também não está relacionada com uma memória do passado e com apenas uma vontade de desejo. Afinal das contas, como poderíamos definir a paixão se não no estado mais puro e animal dos seres: pelo sexo.
O autor pouco modifica para um entendimento entre uma narrativa e outra. São apenas alguns traços ou formas de construir os quadros que mudam, mas sempre a favor de contextualizar uma espécie de universo múltiplo. É como se, apesar de situações diferentes sendo contadas ali, todas levem sempre a um mesmo ponto de tristeza. Até por isso, é interessante o uso por parte de Miguelanxo da nudez, sempre observada bastante com mulheres. É como se essas, na grande maioria dos casos, tive uma maior vontade de estar presente nesse universo de possibilidades que um relacionamento pode causar. Enquanto isso, os homens parecem mais preocupados com a vida e sua continuidade. Contudo, quando a obra inverte essas tendências, é curiosa que ela explora menos o aspecto do corpo em si do personagens, dando destaque para quase um resguardo através do uso das roupas (em uma, o personagem se veste com um traje fino).
O grande diferencial de Tangências é perpassar por essas questões de uma relação sempre de maneira extremamente fria. É como se, além do artista não querer se envolver dentro dessas projeções de trama, não há também qualquer vontade de um envolvimento e possibilidade nesses amores. Em todos eles, a tragédia é um fim claro. Apesar de algumas lembranças sobre o passado – os fragmentos mais tocantes são de lembranças desses tempos -, todos, sem exceção, precisam buscar um fim de maneira a não ser resolvio para todos, mas apenas acabar.
Apesar dessa tristeza iminente, também reforçada por cores mais frias, é curioso o aspecto do sexo também como algo, de certa forma recompensador. Por isso mesmo, ele serve sempre de maneira a ser um suspiro de alegria, de felicidade, de possibilidade, dentro do universo de dois personagens que tem o seu fim anunciado. Ao abrir esses elementos, é como se a obra também buscasse trazer um suspiro para o leitor que, apesar de tudo, ainda haverá algo de bom para ser retirado sobre tudo que ocorreu.
Tangências é uma reunião sobre a melancolia. Uma narrativa sobre narrativas que apenas olham para dentro do âmbito humano, em uma perpepção sobre a solidão. Ao fim de tudo, apesar de sempre encontrarmos nas tramas uma reunião do casal para o momento carnal, eles estarão afastados, longes em seu momento findouro – a arte de Prado reforça bem esse elemento, nunca os colocando no mesmo quadro na parte derradeira. E esse elemento sobre o que nos faz quem somos transforma Miguelanxo Prado em um autor devidamente marcante para ser conhecido e reconhecido. Seu olhar trágico, porém sereno, sobre a humanidade demonstra uma certa paixão e estudo para compreender porque somos assim.