Crítica – Resgate

Um homem durão com passado sombrio. Um jovem que faz o endurecido protagonista redescobrir sua humanidade. Uma missão simples que dá errado. Nessas três frases pode se encaixar uma dezena de filmes de ação produzidos desde sempre, e agora, o mais novo filme original da Netflix. Resgate entra para esse campo tão lotado, mas com singularidades o suficiente para destacá-lo da multidão.

O longa de debute do diretor Sam Hargrave – que antes trabalhava como coordenador de dublês – acompanha o mercenário Tyler Rake (Chris Hemsworth), convocado para uma missão à primeira vista simples: resgatar Ovi Mahajan (Rudhraksh Jaiswal), filho de um grande traficante de drogas indiano, sequestrado por um traficante rival. Como há de ser, a missão dá errado e se torna mais complicada do que previsto, e a dupla precisa escapar de uma cidade completamente cercada por seus inimigos.

 A trama do longa realmente não é algo memorável, mas se o que importa em um filme não é o que está sendo contado, mas o como, então a obra consegue realmente encontrar seu espaço, mesmo que demore a demonstrar isso. Os minuto iniciais do filme, mesmo que eficazes em deixar sublinhado certas angústias pessoais dos protagonistas – como a solidão familiar de Ovi, filmado sempre em planos abertos e sozinho quando está em casa – é um tanto genérico no seu desenrolar. Tyler sendo apresentado como mais um brutamontes sisudo cool de tantas outras produções. Há até uma certa obsessão em mostrar como Tyler é durão, o que ocorre nada menos que três vezes nesses momentos.

Quando a primeira grande cena de ação se inicia, Resgate mostra que atrás das câmeras há uma preocupação técnica em entregar boas sequências de ação acima da média. Ao invés das brigas picotadas na edição, temos momentos bem coreografados em planos claros e longos, que ajudam a transmitir um senso de urgência e de fisicalidade para as lutas. Há uma integração bem interessante entre os ambientes e os movimentos da cena, com cada sequência se utilizando da particularidade de cada cenário para evitar a monotonia, como uma luta de facas no meio da rua, que é constantemente interrompida por riquixás em trânsito.

Tenta-se realizar algo semelhante nos momentos de teor mais dramático, mas que acabam não servindo de muita coisa por serem tão esparsos e rasos, apesar de uma cena particularmente eficaz, em que Tyler se permite mostrar fragilidade emocional. Apesar do longa querer mostrar uma conexão emocional entre Ovi e o mercenário, pouco se investe na relação dos dois a esse nível. Muito do terceiro ato do filme depende dessa conexão ter sido bem estabelecida, o que não acontece.

Assim, apesar da superfície excessivamente genérica de Resgate, há muito do que se apreciar no longa. O humor de Hemsworth pode não estar em uso aqui, mas está mais do que compensado pela sua fisicalidade nas cenas de luta, com Hargrave fazendo bom uso da sua experiência como dublê. Tal como a missão central ao filme, a produção é mais do que parece à primeira vista.

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