Crítica – Men: Faces do Medo

Qual a melhor maneira de expressar uma ideia simples? É ser claro e objetivo ao dizê-lo. Ou, no mínimo, encontrar novas observações a partir dessa ideia. Men: Faces do Medo é um filme com um foco narrativo evidente: que homens, frequentemente, tratam mal e violentamente as mulheres no mundo. Ao invés de assumir o aspecto claro da sua premissa em sua forma, Alex Garland, diretor e roteirista da obra, encontra um sem fim de mistificações para dizer a mesma coisa, de maneiras diferentes, ao longo de uma hora e quarenta.

 Irei respeitar o espirito da minha afirmação inicial: Men é um filme ruim. Eu poderia encerrar o texto aqui com a confiança que já expressei o que desejo. No entanto, a função do crítico é ir um pouco mais além dessas afirmações generalistas, e farei isso nas próximas linhas, de modo a dar sustento a minha conclusão.

E sendo honesto, o longa não começa tão mal. A cena de aparente tranquilidade, marcada pelas cores do pôr do sol e uma trilha sonora suave, gera mais inquietação do que outra coisa, especialmente diante da expressão de Harper (Jessie Buckley), de puro terror, e com o nariz ensanguentado, olhando pela janela. O contraste gera estranhamento, que só é exarcebado quando James (Paapa Essiedu) passa rapidamente pela janela, em direção ao chão.

Imediatamente após esse momento, Harper está no interior da Inglaterra, onde passará duas semanas em uma casa alugada. Geoffrey (Rory Kinnear), o excêntrico caseiro, mostra o local para ela, e logo parte. Entretanto, a paz da protagonista é perturbada pela presença de um homem nu no quintal, e também pelo comportamento de todos os homens de um vilarejo próximo, todos interpretados por Kinnear.

O mistério da cena inicial carrega esses momentos iniciais do filme, assim como o fato de que todos os homens possuem a mesma face. O que aconteceu entre James e Harper? Qual a conexão desse evento com esses outros homens? Entretanto, Garland mata o mistério com menos de 20 minutos, explicando, por meio de um flashback, o que fez James pular da janela.

O que poderia ser uma exploração interessante de um evento traumático vira…bem, nada. Men não tem muito para onde ir após isso, pois ele também não se preocupar em elevar Harper para além de “mulher traumatizada” e então começa a se apoiar em vagarosas cenas de terror e de interação da protagonista com os outros homens para reforçar, que nós, homens, somos terríveis.

E nada contra esta mensagem, que o próprio Garland já expôs com muito mais habilidade em Ex-Machina, sua estreia na direção. No filme de 2015, ele conseguiu entrelaçar as questões de gênero com discussões sobre inteligência artificial e afins, aqui, ele não tem nada a oferecer além de imagens grotescas com referências a mitologia pagã, como maneira de disfarçar a falta de ideias.

Não gosto de falar sobre o que um filme poderia ser, pois o foco sempre deve ser no que o filme é, mas é difícil não observar que há uma estrutura muito simples de home invasion que poderia servir muito bem a obra, mantendo a mensagem, mas sem tanta mistificação desnecessária. Faltou coragem para ser simples em Men.

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