Crítica – Terrifier 2

Apesar de Terrifier ser um nome inédito para muitos brasileiros, a franquia, e seu personagem principal, Art, possuem uma história antiga. A cria de Damien Leone existe a mais de uma década, sendo parte integral da sua filmografia, estrelando uma série de curtas até chegar no primeiro longa-metragem em 2016, e no sucesso estrondoso da sequência, Terrifier 2, que chega aos cinemas brasileiros nesse fim de ano.

O êxito de um filme de terror quase sempre é acompanhado de hipérbole, “o filme mais assustador do ano!” é repetido nas redes sociais e os relatos de pessoas passando mal idem, tudo muito bem cultivado pela publicidade em torno da obra. Costuma ser papo furado, mas, no filme de Leone, isso pode ter um fundo de verdade, pois a saga de Art sempre foi marcada por uma desinibição absoluta em mostrar atos violentos. Vale lembrar que o grande marco do filme prévio consistia em uma pessoa sendo, explicitamente, partia ao meio. Não há interesse no “poder de sugestão” do cinema aqui.

Não digo isso de modo pejorativo, pois o grande atrativo de Terrifier 2 se dá por conta das inventivas mortes imaginadas por Leone, uma em especial parece existir somente para superar a sequência citada no parágrafo prévio, que cruza a violência gráfica e chega no cartunesco. Parte do trunfo da produção é não se levar muito a sério, mas é carregada de certo espírito de curiosidade para saber até onde é possível ir e, especialmente, até onde as audiências conseguem aguentar. Apesar das outras mortes nunca superarem esta – que infelizmente já vazou nas redes sociais – Leone nunca deixa de procurar novas maneiras de fazer com que uma vítima sofra na mão de Art.

E claro, o grande diferencial é o próprio vilão, que possui uma atitude Looney Tunes em relação aos seus atos, com uma lógica de desenho mesmo, tirando objetos de locais impossíveis para cometer atos ainda mais absurdos. O trabalho corporal de David Howard Thornton é apropriadamente exagerado, andando na linha fina entre o perturbador e o humorístico, quando não as duas coisas, quando, por exemplo, ele pula de empolgação ao ver a dor do seu mais recente alvo após seus ataques.

Diante de um personagem tão divertido, não surpreende que Terrifier 2 perca um pouco da graça quando ele não está na tela, o que acontece com certa frequência. Parece uma herança deixada pelo primeiro filme, que, mesmo com a duração enxuta, possuía uns momentos mortos, pois o que Leone sabe fazer com a violência explicita, não sabe fazer com criar suspense e tensão. Na sequência, a presença de um pequeno arco narrativo torna esses momentos menos entediantes. É melhor os personagens descobrindo alguma coisa do que vê-los esperando algo acontecer.

No final, as tramas até se integram mais, com a protagonista Sienna (Lauren LaVera) finalmente podendo encarar Art em posição de igualdade. É só nesse momento que a mitologia proposta pelo filme ganha alguma força, mesmo que ainda efêmera, só que que revela, novamente, o grande pilar do filme, a imaginação. Anjo vingador contra palhaço assassino, soa mais fascinante do que acontece na tela, especialmente em função do ainda baixo orçamento, mas mostra que Leone está interessado em mexer com o status quo do seu universo. Diante da cena pós-crédito, especialmente perturbadora, é difícil não ficar empolgado para o inevitável Terrifier 3, que pode dar ainda mais espaço para a criatividade de Leone.

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